Título: Revista diz que Valério chantageou PT
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Fonte: Jornal do Brasil, 24/07/2005, País, p. A5

A alta cúpula do PT se deparou neste fim de semana com outras denúncias a explicar. Na edição que chegou ontem às bancas, a revista Veja relata que, desesperado pelo envolvimento como operador do ''mensalão'', Marcos Valério de Souza teria chantageado vários petistas. ''Vou estourar tudo'', teria ameaçado, em conversa por telefone com o ex-presidente da Câmara, João Paulo Cunha. Segundo a revista, Valério disse ainda que os petistas ''iriam se ferrar'', pois recorreria à Procuradoria Geral da República para propor a delação premiada - mecanismo pelo qual um réu diz o que sabe em troca de um alívio na pena. ''Avisa ao barbudo que tenho bala contra ele'', teria dito Valério numa referência ao presidente Lula. Teria ainda exigido de João Paulo garantias de que não seria preso e a chance de obter dinheiro para garantir seu futuro - cerca de R$ 200 milhões, segundo a revista.

A reportagem afirma que a ameaça de chantagem do empresário teria levado à montagem da tese do caixa dois - dinheiro não contabilizado para a Justiça Eleitoral - para financiar campanhas eleitorais, confessado pelo empresário e pelo ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares na CPMI dos Correios. Com a tese de crime eleitoral, encobririam um problema maior: o suposto ''mensalão''.

De acordo com a reportagem de Veja, João Paulo Cunha avisou o ex-ministro José Dirceu e o ex-tesoureiro Delúbio Soares da conversa com Valério. Ele fez outras ameaças: se não fosse atendido também iria disparar contra dois ministros recém-empossados: Saraiva Felipe, da Saúde, e Hélio Costa, das Comunicações, ambos do PMDB mineiro. Os dois teriam usado dinheiro de Valério. Saraiva e Costa falaram à revista e negaram a informação.

Segundo a Veja, a versão de crime eleitoral teria sido escolhida por não envolver, em tese, corrupção ou pagamento do mensalão. A punição para esse tipo de crime é de no máximo três anos de prisão.

A revista diz que a operação teria sido apresentada a Lula numa reunião em seu gabinete. A conversa teria sido testemunhada pelos ministros Antonio Palocci (Fazenda), Jaques Wagner (Coordenação Política) e Márcio Thomaz Bastos (Justiça). Lula não teria sido orientado a endossar a tese do crime eleitoral nem incentivado a dar entrevista sobre o assunto.

A reportagem provocou reação da cúpula do PT. O secretário-geral, Ricardo Berzoini, desafiou Valério a revelar os dados sobre o ''mensalão'':

- Se tem informações que não apenas denúncias vazias, tem obrigação de apresentar.

O presidente do PT, Tarso Genro, disse que não se sente ameaçado:

- A mim não preocupa. Ao presidente também não.