Título: Indesculpável traição
Autor: Paulo Ramos
Fonte: Jornal do Brasil, 24/07/2005, Outras Opiniões, p. A12

O golpe de 1964, ao aniquilar as liberdades democráticas, foi produzindo legiões de banidos, exilados, cassados, presos, torturados, mortos, desaparecidos, demitidos e perseguidos. A luta pela redemocratização, com bandeiras da anistia e constituinte, às quais se incorporou a das Diretas Já, foi sendo a conta gotas vitoriosa. Com início da anistia, a década de 80 inaugurou a reabertura dos partidos, sendo o PT a novidade.

Àquela altura ninguém poderia imaginar que um partido, formado pela ala progressista da Igreja, alguns intelectuais, perseguidos políticos, lideranças sindicais e movimentos emergentes, poderia desaguar no que verificamos hoje. O PT foi o grande beneficiário do processo de reconstrução da problemática ''democracia brasileira''.

Ao longo dos anos pós-oitenta, ser petista significava consagração. A estrela no peito era carteira de identidade e dignidade. Os estudantes filiados ao PT eram os mais desassombrados, os trabalhadores os mais combativos, os intelectuais os mais brilhantes, os detentores de mandato os mais corajosos e éticos.

Ainda ousaram proclamar que a luta da classe trabalhadora começara com Lula e seus companheiros no ABC paulista. E assim o PT cresceu, sendo o preferido das redações dos jornais, das emissoras de rádio e estações de TV. As transformações ansiadas pelo povo brasileiro deveriam passar necessariamente pelo PT.

Embora sinais de contradição tenham sido revelados, como a não subscrição da Constituição de 88, o pouco ou nenhum envolvimento na luta contra a revisão constitucional, o voto favorável à proposta do Presidente Collor de 100% do capital estrangeiro nas privatizações e o posicionamento suspeito quando da aprovação da Lei de Patentes e da Lei dos Portos, nada era capaz de tisnar a imagem petista. Quem revelasse que Lula subscrevera o ''Consenso de Washington'' era tido por mentiroso.

Enfim, o PT chegou ao poder central com um governo comprometido com mudanças, representante legitimo do campo progressista, a face da esquerda, a expressão da ética. Hoje, cumprida mais da metade do governo Lula, quando a máscara vai caindo, na fase em que a hipocrisia se torna impossível e comprovada a farsa, podemos desnudar cada degrau da escada utilizada pelo PT.

O PT pisou no sofrimento dos banidos e exilados, na angústia dos cassados e demitidos, na dor dos torturados, na aflição dos familiares dos desaparecidos na sepultura dos mortos e na esperança do povo brasileiro. Não é pequena a traição petista. Ela é grande e indesculpável, já que foram anos de luta na vida de muitas gerações.

Se não foi possível criar condições objetivas para o impeachment do Presidente Lula pelo descumprimento dos compromissos assumidos na campanha eleitoral, ficando tudo no campo da desilusão por ter ele adotado o continuísmo da era FHC, por ter se ilegitimado e ter perdido a autoridade política. O quadro se agravou.

A lama da corrupção está escorrendo por cuecas estreladas, as já identificadas e outras que vão surgindo no dia-a -dia das calças arriadas, não obstante as desculpas esfarrapadas e as versões montadas por advogados criminalista competentes.

O governo Lula, o PT e seus aliados estabeleceram uma relação de dependência com aqueles que os corromperam, sendo intolerável que continuem no poder e possam ser sucedidos por quem se utilizava dos mesmos métodos e que impôs o mesmo projeto político, tendo exatamente por isso sido derrotado em 2002.

Se duas são as alegadas hipóteses para o Presidente Lula: ou não sabia de nada, foi totalmente enganado por seus companheiros mais próximos e não se deu conta do que acontecia, ou é conivente com tudo o que esta sendo revelado, a conclusão é óbvia.

O Brasil não merece ser governado nem por um desavisado e nem por quem se acumplicia a maracutaias.

A bem da verdade, urge denunciar que o Presidente Lula é o líder, é o primeiro responsável pelo estelionato eleitoral de 2002 e por todos os desmandos que estão assustando o povo brasileiro.

Não há blindagem capaz de inocentar o Presidente. Enfim, para os lutadores sociais, os nacionalistas e os trabalhistas, para os que continuam sonhando com um Brasil soberano, socialmente justo e democrático, não há outra saída para o Presidente Lula senão o impeachment, pois a história não perdoa os vendilhões da pátria e os traidores do povo.

Buscar outra alternativa e mobilizar a vontade nacional é o nosso dever.