Título: A ilusão da balança comercial
Autor: Rafael Rosas
Fonte: Jornal do Brasil, 24/07/2005, Economia & Negócios, p. A17

Enquanto setores exportadores nacionais criticam duramente a política de juros altos e apresentam dados concretos de perdas com o dólar baixo, a balança comercial segue dando munição para o governo federal lavar as mãos em relação ao câmbio. O último relatório Focus aponta que as principais instituições financeiras do país esperam que o superávit comercial feche o ano no patamar de US$ 36,45 bilhões, US$ 2,757 bi acima do recorde do ano passado. Mas as aparências enganam. Uma análise detalhada mostra que alguns setores carregam sozinhos o mérito dos festejados recordes comerciais.

O principal deles é o de mineração. No começo do ano, a Companhia Vale do Rio Doce estimava que o impacto do reajuste de 71,5% dos preços do minério de ferro seria de US$ 4 bilhões na balança comercial, mais que a diferença esperada entre os resultados de 2004 e 2005.

Atualmente, a empresa não divulga as projeções sobre os ganhos com o aumento de preços. Mas o mercado estipula que a contribuição para a balança será decisiva, evitando a estagnação.

Carlos Urso, economista da LCA Consultores, projeta que as exportações brasileiras de minério de ferro em 2005 chegarão a US$ 8,2 bilhões, contra US$ 4,759 bilhões no ano passado. Descontada a estimativa de crescimento de volume vendido ao exterior, a previsão é de que a alta de preços responda por quase US$ 3 bi na balança comercial. Ou seja, a diferença precisa entre os saldos deste ano e do anterior.

- Não se pode dizer que só o minério de ferro fará diferença, mas com certeza ele é muito importante. Ao contrário do previsto, a China continua com forte demanda.