Título: ¿Roriz poderá voltar em 2010¿
Autor: Eduardo Brito e Mariana Santos
Fonte: Jornal do Brasil, 24/07/2005, Brasília, p. D1

Candidato assumido ao Palácio do Buriti, o senador Paulo Octávio recomenda antes de mais nada a união dos postulantes da área governista ¿ além dele próprio, a vice governadora Maria de Lourdes Abadia, o secretário Tadeu Filippelli, o deputado José Roberto Arruda e o ex-ministro Maurício Corrêa. Nisso, reconhece, o governador Joaquim Roriz terá papel predominante, não apenas por controlar a máquina administrativa, mas também por contar com mais de 70% da aprovação popular. Não sendo governador desta vez, porque já foi quatro vezes e agora está constitucionalmente impedido, deve conduzir o processo e ser candidato a outro posto. E, admite o senador, Roriz poderá buscar até uma nova eleição em 2010. A conclusão é óbvia: se isso acontecer, o governador eleito no ano que vem se veria forçado a examinar a hipótese de abrir mão de uma candidatura à reeleição. Autor de uma emenda constitucional que determina coincidência de mandatos e fim da reeleição, Paulo Octávio admite, a propósito, que o atual presidente, Lula, já tem dito que poderá não concorrer no ano que vem. O senador prevê que a atual crise fará encolher as bancadas do PT, que costuma ter de 25% a 30% de votos no Distrito Federal. Quanto a seu partido, o PFL, avisa que esperará uma definição do seu competidor interno, o deputado José Roberto Arruda, que ainda não garantiu se fica no partido. - Como estão as conversas entre o senhor e o deputado José Roberto Arruda para definir o nome com que o PFL disputará o Buriti?

- Essas conversas não ocorreram ainda porque, durante muito tempo o Arruda manteve uma posição indefinida sobre sua permanência no partido ou não. Prefiro aguardar até o prazo final, em setembro, para saber se ele vai continuar. Eu já declarei várias vezes que permaneço, sou o presidente do partido, e felizmente fico muito orgulhoso de fazer o trabalho que fizemos. Hoje o partido é uma marca em Brasília, tem 30 mil filiados, cinco deputados distritais, três deputados federais, um senador, vários secretários de Estado, vários administradores. Talvez a maior força política de Brasília hoje seja o PFL. Nos quatro anos que estou à frente do partido, ele cresceu bastante.

- Três desses deputados que o senhor citou foram para a Frente Democrática e criaram vários problemas para o governador Roriz. Isso não deve ter contribuído em muito para melhorar as relações do senhor com o governador.

- Quando o deputado distrital Fábio Barcellos me procurou lançando-se candidato à presidente da Câmara, imediatamente comuniquei ao governador Roriz. O PFL não estaria contra, porque fazemos parte da mesma coligação, mas o PFL tinha um candidato e eu, como presidente do partido, jamais poderia coibir uma candidatura natural do partido. Até porque em momentos anteriores, a Câmara já foi presidida por partidos aliados do governador. O próprio PTB presidiu a Câmara durante um tempo. O PFL é aliado firme do PMDB, tanto é que fizemos a campanha juntos. Fui senador pelo PFL e o Roriz governador pelo PMDB. O processo de eleição da Câmara foi muito transparente. A frente democrática votou todos os projetos do governador. No começo deste ano, quando foi criada a frente, houve algumas divergências. A pedido do próprio governador, entrei em campo para que pudessem ser sanadas. Houve um grande entendimento com o governador, ainda em março, quando a frente passou a apoiar integralmente o governo. O PFL nunca deixou de apoiar - tem inclusive decisões de apoio total ao governo.

- Depois disso houve o episódio da votação do BRB em Corumbá que deixou o governador bastante irritado.

- Houve o episódio da votação do BRB, que no meu entendimento foi um episódio localizado em divergências internas da Câmara Legislativa. Não foram divergências com o governo, mas com os representantes do governo na Câmara.

- Nessa época havia também uma negociação de cargos que esse grupo estava fazendo com o governador. Por causa desse episódio de eles terem votado contra o projeto, houve um desgaste do grupo e do senhor, por ser aliado do grupo. Como o senhor vem fazendo para superar isso com o governador?

- Depois desse episódio, que foi, se não me engano, em abril, muita coisa já passou. O próprio governador entregou algumas posições aos parlamentares, algumas administrações, administrações essas que estão sendo exercidas por pessoas indicadas pelos deputados distritais. E sempre quando houve qualquer ruído nas discussões, tentei ajudar sempre buscando o entendimento. Hoje, sinto que está tudo superado.

- O senhor teve algum ônus com esse episódio?

- Sempre estive ao lado do governador buscando aproximação. Hoje posso dizer que a aproximação está feita. Vitória da boa articulação.

- Alguns dos pré-candidatos têm dito que só serão candidatos se tiverem apoio do governador Roriz. O senhor diz a mesma coisa?

- Acho que isso é consenso. Temos hoje a sorte de termos em Brasília um governador que tem uma aprovação muito grande. Um percentual de aprovação dos mais elevados do País. Certamente, o peso dele na eleição será enorme. Se nós temos aí cinco pré-candidatos e se pudermos ter a inteligência de aglutinarmos esses cinco candidatos numa candidatura única, teremos a chance da vitória. Com a desunião, poderemos ter dificuldades e atrasar o desenvolvimento da cidade.

- O senhor disse que cedeu espaço para o Arruda num determinado momento e agora seria o momento de ele ceder para o senhor. Como vai ser feita essa cobrança.

- Em política é muito difícil cobrar. O que existe de minha parte é o sentimento pessoal de que eu já apoiei o Arruda, em 1998, e então, de uma forma cavalheira, eu gostaria que ele retribuísse o apoio que lhe dei nessa época.

- A terceira via, que foi essa experiência a que o senhor se referiu, não foi bem sucedida daquela vez. O senhor acha que ela pode ser reeditada hoje polo senhor ou por outros pré-candidatos?

- É difícil avaliar. Acho que hoje o quadro de Brasília ainda tem muitas indefinições. Entendo que de repente podemos ter aí pouquíssimos candidatos ao governo.

- Pouquíssimos, o senhor quer dizer, dois candidatos para valer?

- Até pode ser. Com essa crise política que vivemos, de que não sabemos o desfecho, pode acontecer um grande afastamento de lideranças políticas da cidade.

- Diante desse quadro de crise, e levando em conta que o senhor tem um bom relacionamento com o Palácio do Planalto, quais as possibilidades de uma articulação local do PFL com o PT?

- Acho muito difícil. É uma articulação que nunca houve em primeiro turno, no Brasil. O PFL nunca esteve, no primeiro turno, unido ao PT. Tenho visto as declarações dos próprios candidatos do PT, dizendo que não querem o apoio de ninguém, querem marchar sozinhos, que o PT terá um candidato próprio. Então, prefiro aguardar.

- Em relação ao segundo turno, o senhor acha viável?

- Sim. Se eu for para o segundo turno, se o PT puder me apoiar, não acho ruim. Acho que nós temos de buscar apoios.

- E se for o contrário, se o PT for para o segundo turno, o senhor apoiaria?

- Não sei contra quem. É difícil. O meu compromisso é com os nomes que estão colocados pelo governador, que são os cinco nomes apresentados: Maurício Corrêa, Maria Abadia, Filippelli, Arruda e o meu próprio. Um desses nomes é que terá meu apoio.

- Quem seria um bom vice?

- No esforço que se faz para se governar uma cidade, todos podem ser bons vices. Quem postula um cargo majoritário, muitas vezes tem que aceitar uma vice, uma posição de vice-liderança que eventualmente assume o governo, que tem muita responsabilidade. Olha o trabalho bonito, intenso, na área social, que vem fazendo a Maria Abadia como vice. Entendo que qualquer um dos cinco poderia ser um bom vice.

- O senhor aceitaria?

- Não podemos descartar nenhuma das possibilidades. Lógico que na posição de senador, como venho representando bem Brasília, destacado em todas as pesquisas como parlamentar atuante e um dos cabeças do Congresso, tenho de avaliar com meu grupo se é conveniente deixar a posição de senador para ser vice. Mas, se de repente for para uma composição política para o bem da cidade, não descarto.

- Quais são as chances de uma chapa puro-sangue pefelista?

- Marchar sozinho numa campa majoritária nunca é bom. Só se formos colocados nessa posição. Queremos estar agrupados, como estivemos na última campanha, vitoriosa porque o PFL, o PMDB e o PSDB estiveram juntos, aliados ainda ao PTB, ao PL e outros partidos. Uma chapa sozinha, logicamente sempre tem mais dificuldades. Repentinamente, se não for possível um acordo entre as grandes lideranças, se o governador, com toda a sua sabedoria, não compor um candidato apoiado por todo o grupo, pode ser que aconteça isso. Mas não é o que quero e não é o que gostaria de presenciar na eleição de 2006.

- Essas acusações que o Ministério Público tem feito ao senhor representam um complicador político?

- Não, se forem bem esclarecidas. Não há acusação contra mim, individualmente, mas à minha empresa, e estão sendo prontamente esclarecidas. Determinei aos dirigentes de uma das empresa que fundei em Brasília - e são 16 - que prestassem todas as informações, para que o assunto se esclareça o mais rápido possível.

- Como a atual crise do PT, inclusive com a citação dos nomes do presidente e do vice-presidente regional, pode mexer com as próximas eleições?

- A crise que vivemos hoje é uma crise que ninguém sabe como vai terminar. A última crise semelhante que o país viveu terminou no impeachment do presidente. Houve um grande prejuízo. Agora, as instituições estão muito fortes. E por serem fortes, elas têm autonomia, independência.

- O senhor é autor de uma proposta de emenda constitucional que prevê coincidência de mandatos. O texto original dela prevê o fim da reeleição. O senhor acha que há a possibilidade de essa emenda, ou alguma outra no mesmo sentido, ser aprovada até o final da atual legislatura, impedindo a reeleição do atual presidente?

- Não sinto muita vontade no presidente Lula de disputar a reeleição. Vi algumas declarações dele dizendo que reeleição é um posicionamento que coloca o presidente a mercê de acordos, de posições que atrapalham o governo. Entendo que grande parte dessa crise que vivemos é fruto desse projeto da reeleição. Essa busca de alianças com partidos, que não eram aliados naturais do próprio PT, essa busca de apoiamento de políticos dos mais diversos partidos, mostra que já se buscava no Palácio do Planalto um apoiamento para a reeleição, porque para os projetos que foram aprovados aqui no Congresso não eram necessários tanto barulho e tanto dinheiro.

- Há algum tempo o governador Roriz mandou um recado de que poderia ficar até o final do mandato. Depois voltou a tratar da candidatura dele. Há pouco tempo ele voltou a dizer que poderia ficar até o final. A que o senhor atribui essas idas e vindas?

- O governador Roriz sabe do compromisso que tem com a cidade, em governar bem. Sabe que lançar um candidato prematuramente pode atrapalhar a condução do governo. Sabe que se declarar candidato também pode atrapalhar um bom entendimento. Entendo que ele vai gastar até o último minuto do prazo de desincompatibilização para ser candidato ou não, para dizer o que quer. A posição dele é muito confortável - 70% de apoiamento para a candidatura ao Senado, uma candidatura a deputado federal, ou deputado distrital, também sem nenhum tropeço. Não sendo governador, porque já foi quatro vezes, não sendo desta vez, pode ser candidato a uma dessas posições, buscando até, quem sabe, uma nova eleição em 2010.

- O senhor está lançando a candidatura do governador Roriz em 2010?

- O governador Roriz tem muita saúde e ama tanto Brasília que de repente pode ser deputado ou senador por um tempo e pensar numa eleição em 2010. É uma coisa que não é descartável.

- Em que medida a crise atual pode favorecer esse grupo de cinco pré-candidatos?

- Se até as eleições de 2006 o governo continuar com as boas realizações, se nenhum dos membros do grupo tiverem problemas, entendo que é plenamente possível ter uma grande vitória.

- O senhor acha que essa crise pode abalar os votos que são fiéis ao PT?

- É natural que isso aconteça. Não quero pré-julgar, mas depois de uma crise como a que vivemos, sem ainda prever os resultados. Hoje mesmo vi o anúncio de que alguns líderes do PT estariam saindo do partido. Logicamente, se houver esse esvaziamento, as lideranças do partido que hoje levam o partido a ter preferencia de 25% a 30% em Brasília venha a cair.