Título: Ex-policiais são condenados por chacina de Vigário Geral
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 24/07/2005, Rio, p. A28

Os ex-policiais militares Paulo Roberto Alvarenga e José Fernandes Neto, acusados de participar da chacina de Vigário Geral, em 1993, foram condenados ontem, por unanimidade, a 30 anos de prisão. Os dois já tinham sido condenados antes - Alvarenga em 1997, Fernandes em 2000 - mas voltaram à corte depois de apelar para um novo júri. A sessão do Segundo Tribunal do Júri começou às 9h de sexta-feira e acabou por volta das 10h de ontem. Neste segundo julgamento, os ex-policiais voltaram a alegar inocência quanto às acusações de envolvimento na chacina de Vigário. Na ocasião, cerca de 50 homens encapuzados invadiram a favela e atiraram contra moradores, matando 21 pessoas. O crime foi motivado por vingança, já que quatro PMs haviam sido mortos dois dias antes, no mesmo bairro.

No julgamento, quatro testemunhas da chacina - Denizar Quintas dos Santos, Pedro Paulo Abreu, Valmir Alves Brum e Ivan Custódio Barbosa de Lima - foram ouvidas pelos jurados a pedido da Defensoria Pública, que representou os réus.

Em abril de 1997, Paulo Roberto Alvarenga foi condenado a 449 anos e 8 meses de prisão. Por meio de um habeas-corpus, ele obteve reconhecimento de crime continuado e foi condenado por apenas um homicídio. O Supremo Tribunal Federal então reduziu a pena para 57 anos. Sua defesa recorreu, alegando que a pena deveria ser inferior a 20 anos.

Em seu depoimento, que durou cerca de 50 minutos, ele disse que não conhecia as vítimas nem sabia quem havia participado da chacina. Disse que chegou em casa por volta das 19h30 no dia do crime e que só saiu na manhã seguinte, às 8h, para trabalhar. O ex-PM disse ainda que trabalhou no dia em que os policiais foram mortos e estava no primeiro carro que chegou à favela.

Naquele dia, antes de voltar para casa, ele ainda teria comparecido ao enterro do sargento Ailton - um dos quatro policiais mortos antes da chacina - no Cemitério de Inhaúma. Segundo Alvarenga, foi sua proximidade com o sargento morto que gerou as acusações de envolvimento nos assassinatos. Ele também negou que tenha fugido da Justiça em 2001, depois que seu alvará de soltura (concedido em setembro de 2001) foi cassado.

José Fernandes Neto, preso desde setembro de 1993, também passou por seu segundo julgamento. Em setembro de 2000, ele foi condenado a 45 anos de prisão. Também negou qualquer envolvimento com a chacina, em seu depoimento, e afirmou ter sido absolvido de todas as acusações apresentadas nos 11 processos que respondeu. O ex-PM confirmou ter constituído uma sociedade informal com o sargento Ailton, durante cerca de dois anos, e que chegaram a ter três barcos aportados em Sepetiba e Angra dos Reis.

O ex-PM afirma que chegou às 19h30 à festa de aniversário de uma amiga, chamada Simone, depois de sair do enterro dos quatro PMs mortos em Vigário. Por volta das 21h, ele diz ter ido para a casa do filho e, em seguida, para sua própria residência. O ex-policial ainda explicou que desistiu do advogado anterior pois discordava de sua tática de defesa.

Após a investigação, o Ministério Público denunciou 52 policiais militares. Desse total, apenas sete foram condenados pelo 2º Tribunal do Júri da Capital. O restante foi absolvido por falta de provas. No processo pelas mortes em Vigário Geral ainda falta ser julgado o réu Leandro Marques da Costa, o Bebezão, que está foragido.