Título: Briga de empresas engordou contas
Autor: Marcelo Kischinhevsky
Fonte: Jornal do Brasil, 25/07/2005, País, p. A3

A versão oficial de que todo o dinheiro movimentado nas contas das agências de publicidade SMPB e DNA e de seu dono Marcos Valério seria para financiamento de campanhas eleitorais começa a ser desmontada. Entre as empresas cujas doações vêm sendo rastreadas pela Comissão Parlamentar Mista de Inquérito, estão duas empresas controladas pelo banqueiro Daniel Dantas, do Grupo Opportunity: Telemig Celular e Amazônia Celular, que detêm, juntas, 5,6% do mercado nacional de telefonia móvel. A suspeita de parlamentares é que o dinheiro sem registro tenha como objetivo angariar apoio do governo para desatar o nó societário envolvendo a Brasil Telecom (BrT). Dantas divide o capital da BrT com Previ (fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil), Citigroup e Telecom Itália. Os sócios da operadora de telefonia fixa das regiões Sul e Centro-Oeste viviam brigando desde a privatização. O Opportunity, graças a acordo com Citi e fundos (Previ à frente), geria a empresa, embora tivesse participação minoritária.

Num lance surpreendente, Dantas anunciou há dois meses a venda de sua fatia na BrT aos italianos pelo triplo do valor de mercado. Paralelamente, Citi e Previ fecharam acordo secreto, estimado em R$ 1 bilhão, pelo qual o fundo se comprometia a comprar a parte do banco americano no negócio. Em entrevista à Folha de S.Paulo, ontem, Henrique Pizzolato, ex-diretor do BB, levantou suspeitas sobre o contrato, sustentando que foi selado sem debate no Conselho de Administração.

O ex-diretor do BB cita a assessoria prestada à Previ pela Angra Partners, firma criada em fevereiro de 2003, logo no início do governo Lula. A consultoria tem cinco sócios: Pedro Paulo de Campos (ex-diretor do Citi para a América Latina), Ricardo Knoepfelmacher (também ex-funcionário do banco), Alberto Guth, André Rizzi e Renato Carvalho.

Knoepfelmacher e Carvalho acabam de ser nomeados conselheiros da Futuretel, controladora da Telemig Celular e da Amazônia Celular, após a destituição do Opportunity da gestão da empresa. Ambos representam os fundos. Na mesma assembléia, outro acionista da Angra Parners, Alberto Guth, foi eleito diretor da Futuretel.

Para Guth, o acordo com o Citi foi feito ''no melhor interesse dos fundos'' (Previ, Funcef e Petros).

- Com a mesma participação minoritária, os fundos resgataram participação na cabeça das empresas, o que vinha sendo negado pelo Opportunity - enfatizou Guth ao JB, por telefone, de Atenas.

Não houve intuito, sustenta, de fechar acordo secreto, como sugere Pizzolato. Para ele, o preço está em linha com a acertada entre Telecom Itália e Opportunity para compra de fatia na mesma BrT.

Guth defende ainda os sócios Campos e Knoepfelmacher, que trabalharam no banco americano e hoje representam os fundos em negócios com o Citi.

- Apenas facilita nosso acesso ao banco e não contamina a relação - diz, negando qualquer conflito de interesses. - Nossa remuneração é tanto melhor quanto o resultado obtido pelos fundos.

E completa, falando sobre as indicações para a Futuretel.

- Essas empresas não são executivas, são veículos de investimento do Citi e dos fundos, e nada mais natural que nós da Angra e o pessoal da Mattos Filho (escritório de advocacia que representa o banco americano) façamos parte dela.

Daniel Dantas entrou na mira do governo Lula devido às dúvidas levantadas pelo PT, ainda na gestão Fernando Henrique Cardoso, sobre a relação fundos-Opportunity. Com o petista Sérgio Rosa no comando da Previ, os acordos envolvendo o banqueiro começaram a ser atacados. Reportagem publicada pela revista Carta Capital, no início do escândalo do mensalão, revela que Dantas buscou o então secretário de Comunicação, Luiz Gushiken, para obter apoio na disputa com a Telecom Itália. Em troca, ofereceu as contas da Telemig Celular e da Amazônia Celular à DNA Propaganda, de Marcos Valério. Posteriormente, contudo, teriam se desentendido, o que acirrou a briga com os fundos.

Dantas e a Previ eram sócios em outro negócio bilionário: a Telemar. Mas em setembro do ano passado, a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) determinou que o fundo de pensão optasse entre as participações na companhia e as que detêm na Telemig e na Amazônia Celular. Mais uma vez, o resultado causou surpresa: a Previ decidiu sair do controle da Telemar. Segundo Henrique Pizzolato, havia parecer técnico recomendando a venda das fatias nas teles móveis.

Outro personagem mencionado por Pizzolato na entrevista à Folha é Mônica Góes, que teria atuado como lobista em Brasília em favor do Citi. Advogada, teria sido escolhida por seu bom trânsito em Brasília. Não foi encontrada - bem como os demais citados - para comentar as denúncias.