Título: A hora de democratizar o partido
Autor: Paulo Celso Pereira
Fonte: Jornal do Brasil, 25/07/2005, País, p. A4

A escolha de Tarso Genro para ser o candidato do Campo Majoritário à presidência do Partido dos Trabalhadores gerou sentimentos contraditórios na legenda. De maneira geral, é considerado um bom nome, mas só isso não basta. Correntes de esquerda insistem que é necessária maior democratização da cúpula partidária - hoje controlada com mão de ferro pelo Campo -, e não apenas fazer uma mudança de cargos.

- O Tarso é um nome excelente. Não aceitamos, no entanto, que ele seja cooptado pelo Campo Majoritário para substituir o José Genoino e para o Campo continuar esmagando as outras tendências. O PT pode ser presidido pelo Tarso, mas isso tem que representar um amplo diálogo com o restante do partido. Afinal, o Campo não tem mais condições de impor nada - ataca o deputado Antônio Carlos Biscaia (PT-RJ).

A proposta de Tarso Genro - que ocupa interinamente a presidência do partido desde o pedido de afastamento de José Genoino, acusado de envolvimento em casos de corrupção - é semelhante à apresentada pelas correntes da esquerda do PT. Convidado na noite de sábado, Tarso pediu uma semana para consultar outras tendências do partido e avisou que só vai concorrer pelo Campo Majoritário se a proposta for democratizar a direção:

- Se for para concorrer, vai se compor um novo núcleo dirigente e também uma nova maioria, com um novo conceito de direção do partido - garantiu Tarso, ainda sábado à noite.

Até mesmo integrantes do Campo Majoritário acreditam que a divisão do poder entre as tendências é o melhor caminho para limpar o nome do partido. Segundo o deputado federal José Eduardo Cardozo, membro da tendência, essa é a principal qualidade da escolha de Tarso.

- Seria fundamental que ele aceitasse a candidatura e que outros segmentos formassem uma composição, para que a disputa de idéias deixe de ser uma disputa de poder. Nós, do Campo, precisamos ter consciência de que seria muito razoável um entendimento que levasse a uma composição compartilhada da Executiva Nacional - defende o deputado.

Cardozo acredita, no entanto, que há um engano da esquerda do partido, quando trata o Campo Majoritário como uma massa uniforme:

- Às vezes eles erram ao tratar o Campo como uma massa compacta, como se não houvesse divergências internas. Nesse momento deveríamos ampliar a esfera de consenso.

A possibilidade de união resvala, no entanto, na necessidade de as alas da esquerda do partido abrirem mão da candidatura própria. Para o vice-presidente nacional do PT, Valter Pomar, candidato à presidência pela Articulação de Esquerda, o nome de Tarso é bom, mas isso não fará seu grupo desistir:

- Tarso parece não estar comprometido com esse lado terrível do partido. Vamos disputar as eleições e vamos vencer - profetiza.