Título: Praias brasileiras, sotaque europeu
Autor: Samantha Lima e Márcia Arbache
Fonte: Jornal do Brasil, 23/07/2005, Economia & Negócios, p. A17
O território brasileiro está sendo redescoberto por gigantes da Europa no setor hoteleiro. Investimentos superiores a R$ 1,4 bilhão estão previstos para aportar na Bahia e no Rio de Janeiro nos próximos cinco anos, capitaneados por grupos como o francês Accor, o espanhol Iberostar e os portugueses Vila Galé e Reta Atlântico. Embalado pelo euro valorizado e a maior divulgação do Brasil lá fora, o contingente crescente de turistas que cruzam o oceano em busca do sol e das praias por aqui dá aos empreendedores convicção suficiente para estrear ou ampliar as apostas nos dois principais destinos do país.
A Accor vai, finalmente, deslanchar a presença de suas seis bandeiras do segmento hoteleiro no Estado do Rio, 28 anos após a chegada ao Brasil. Além de quatro unidades em construção que serão inauguradas até o fim de 2006 e outras seis já em operação, o grupo tem planos de abrir mais 20 em até cinco anos, em um investimento total previsto de R$ 300 milhões.
Dos 20 novos empreendimentos em estudo, três são da rede Mercure - segmento de tarifas médias - um com a bandeira Novotel - de tarifas mais elevadas - um Parthenon - rede de apartamentos com serviços - e 15 Ibis - acomodações econômicas. As unidades contemplarão, além da capital, o município de Macaé, a Região dos Lagos e a Costa Verde.
Mas a safra de lançamentos começa em 2006, com outros quatro empreendimentos. no primeiro semestre, entra em funcionamento um ''site hoteleiro'': prédio em que, de um lado, funcionará a rede Ibis e do outro, a Formule 1 (de tarifas super-econômicas). A unidade funcionará no Centro do Rio. E, no fim do ano, entrarão em funcionamento outra unidade Ibis, próxima ao aeroporto Santos Dumont, e o hotel da Mercure em Macaé.
Hoje, o grupo tem seis empreendimentos no estado: um Sofitel - rede de luxo do segmento de hotelaria - um Ibis e quatro Parthenon.
- O mercado de turismo no Rio está vivendo um momento muito bom. A Accor Hotels trabalha com um indicador que leva em conta o Índice de Desenvolvimento Humano, a população e o PIB da região, chamado Índice Accor de Prospecção, que nos apontou a existência de mercado para 20 hotéis no estado. Por isso, decidimos colocar executivos dedicados exclusivamente à procura de parceiros para erguer os empreendimentos conosco - explica Alberto Ribeiro, diretor de desenvolvimento da Accor Hotels. - Além disso, precisamos intensificar esforços para avançarmos e aproveitarmos a realização dos jogos Panamericanos.
Dos 20 empreendimentos previstos, nove já estão em negociações adiantadas. Mas o grupo tem interesse em ir além. Há intenção, por exemplo, de abrir mais uma unidade da rede de luxo Sofitel na Barra da Tijuca - plano engavetado provisoriamente em razão do elevado custo dos terrenos. Hoje, a Accor Hotels administra 126 unidades em todo o país.
Já o grupo espanhol Iberostar escolheu a Bahia como destino de seus recursos. Em novembro próximo, inaugura o primeiro dos quatro hotéis que vai construir em uma área de 213 hectares, na Praia do Forte. Com investimento de US$ 250 milhões ao longo de seis anos, além dos hotéis com 400 quartos cada um, serão erguidas 280 casas, na Chamada Costa do Coqueiro, no litoral norte baiano. A conclusão está prevista para 2009.
O Iberostar está entre os cinco maiores grupos europeus de turismo. A rede tem 92 hotéis em 27 países, com 13 milhões de cliente. O faturamento, em 2004, chegou a 2,5 bilhões de euros, cerca de R$ 7 bilhões. A escolha do Brasil foi determinada pela convicção de que o país ''tem potencial para se tornar o principal destino turístico do mundo'', segundo Esteban de la Cruz, diretor de projetos e investimentos da empresa.
- Em regiões consagradas, como o Caribe e o Mediterrâneo, não há mais o que inventar -- diz Esteban, acrescentando que a relativa proximidade do Nordeste brasileiro com a Europa também reforçou a decisão.