Título: JK está no poder
Autor: Penha Rocha
Fonte: Jornal do Brasil, 23/07/2005, Caderno B, p. B1

Quase 50 anos depois de eleito, Juscelino Kubitschek está de volta ao poder. Não no Planalto, mas no território midiático de filme, documentário, minissérie de TV e peça de teatro. Nascido em 1902 e morto em 1976 em um controvertido acidente de carro, o carismático homem que governou o Brasil entre 1956 e 1961, prometendo fazer o país avançar ''50 anos em 5'' - argumento usado para criar Brasília - é a estrela do longa Bela noite para voar, de Zelito Vianna; da minissérie JK, que Maria Adelaide Amaral escreve em parceria com Alcides Nogueira para a TV Globo; da peça Nonô de Minas, de Zulmira Baptista e Irley Machado; e do documentário Pampulha, de Oswaldo Caldeira.

Baseado no romance de Pedro Rogério Moreira, o filme de Zelito deve chegar à tela no segundo semestre, tendo José de Abreu como protagonista. A minissérie de Maria Adelaide Amaral contará a história do estadista, nesse caso vivido por José Wilker, em 53 capítulos entre janeiro e abril do ano que vem. Já em Nonô de Minas, que sobe ao palco do Teatro Glória em 7 de setembro, o presidente será interpretado por Heitor Martinez. No documentário Pampulha, embora a figura de Juscelino seja fundamental, o foco é a capela construída por Oscar Niemeyer, a pedido de JK, no Parque da Pampulha, em Belo Horizonte.

Todo poder tem seu preço. Sobretudo se se levar em conta a atual obsessão pela história pessoal dos grandes vultos históricos , o que acaba criando um outro mito: o do- homem-por-trás-do-mito. Essa ótica tem perseguido os personagens históricos em filmes - que vão de Olga, do brasileiro Jayme Monjardim, a Alexandre, do americano Oliver Stone - e livros, como toda a série de biografias romanceadas dos imperadores romanos. E o preço tem sido esse: a figura histórica, fruto de determinado contexto, tem muitas vezes virado um personagem mais coerente com a finalidade dramatúrgica do que com o rigor histórico. Objeto desde sempre de revisões, Juscelino estaria agora sendo vítima da mesma onda?

Para Maria Adelaide, obras em torno des personagens históricos prescidem de compromisso com a realidade:

- Na TV, o importante é emocionar, recuperar e mostrar a história, inclusive para as novas gerações.

Conterrâneo e eleitor apaixonado de JK, Zelito não vê problema na mitificação de Juscelino:

- Ele é um mito mesmo. Foi o maior presidente que este país já teve.

Diretor do documentário Anos JK, de 1980, Silvio Tendler assim resume a questão:

- Toda essa humanização do personagem histórico, todo esse o glamour, despolitiza a política. E despolitizar a política é como deserotizar o amor.