Título: Caso Cássia Eller é reaberto
Autor: Florença Mazza e Gustavo de Almeida
Fonte: Jornal do Brasil, 27/10/2004, Rio, p. A13

MP decide pelo não arquivamento de processo

Dois anos depois de tentar o arquivamento do processo oriundo do inquérito policial que apura a morte de Cássia Eller na Clínica Santa Maria, o Ministério Público (MP) estadual resolveu concordar com a decisão da 29ª Vara Criminal e fazer denúncia favorável à tese de erro médico. O órgão divulgou ontem um parecer no qual consta a opinião de peritos sobre o modo com que a cantora foi tratada na clínica antes de morrer, em 29 de dezembro de 2001. Segundo o inquérito reaberto agora pelo MP, ''a terapêutica aplicada à paciente reduziu, para dizer o mínimo, suas chances de melhora, uma vez que, além de não terem sido utilizados os medicamentos indicados à hipótese de intoxicação por álcool/cocaína, foram utilizados medicamentos contra-indicados para este tipo de situação''. Segundo os promotores Flávia Ferrer e Fernando Chaves, deve ser examinado se o tratamento foi adequado. No parecer os promotores questionam o uso de Plasil antes de a cantora ter parada cardíaca.

No entanto, o parecer do MP cita a perita e farmacêutica Eliani Spinelli, que ontem disse ao Jornal do Brasil que discordava do documento. Segundo a farmacêutica, não é possível determinar qual medicamento causou a morte de Cássia.

- Acredito que os médicos pensavam que ela tinha algum distúrbio gastro-intestinal, pois ela apresentava dores abdominais e vomitava. Depois que ela sofreu uma parada cardíaca, os médicos fizeram uma lavagem gástrica e tentaram vários medicamentos antiarrítmicos para reanimá-la - disse.

O advogado Marcos André Campuzano, advogado de Maria Eugênia, companheira de Cássia, comemorou a decisão de retomar o processo.

- Desde o início nós afirmamos que a Cássia não tinha morrido de overdose e há um ano e meio um laudo particular encomendado por nós a peritos teve resultado semelhante ao do MP. Vou me reunir com a Maria Eugênia no próximo dia 8 ou 9 e vamos analisar se entraremos ou não na Justiça contra a clínica. Esta é uma decisão da família e, se ela optar por processar a clínica, entrarei com uma ação cível para reparação por danos morais e materiais - disse o advogado, admitindo que já estudava a possibilidade mas aguardava pela conclusão do MP.

Segundo o advogado, é possível que mais três famílias participem da nova ação que será proposta contra a clínica.

- Logo após a morte de Cássia, três famílias me procuraram e se dispuseram a depor contra a clínica, pois seus parentes haviam morrido em circustâncias estranhas e eles estavam dispostos a ajudar. Mas ainda não decidi se estas pessoas serão chamadas - disse.

O advogado da Clínica Santa Maria, Luiz Marcelo Lubanco, disse ontem que não há qualquer possibilidade de erro médico, ''seja omissivo ou comissivo'' no caso da cantora.

- O laudo é todo baseado em suposições, não tem validade judicial. Cita a possibilidade de os medicamentos terem interagido com drogas, quando todos sabem que não há qualquer comprovação de que Cássia tenha morrido por ingestão de drogas. Na época, protestamos contra o fato de o Instituto Médico-Legal não ter condições de confirmar ou não a presença das drogas no sangue - disse o advogado.

Dois anos de espera