Título: 'Melhor falar bobagem do que fazer'
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 21/07/2005, País, p. A7
No mesmo dia em que o ex-tesoureiro do PT, Delúbio Soares, reafirmava em Brasília que o partido usou recursos não declarados para quitar dívidas de campanhas eleitorais, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva dizia, em Recife, que seus discursos de improviso podiam resultar em deslizes, mas que achava melhor falar bobagem do que fazer. - Quando a gente fala de improviso, podemos cometer um erro e falar uma palavra imprevista. Mas, em se tratando de bobagem, é melhor a gente falar do que fazer - declarou a uma platéia de 1.200 jovens carentes, na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).
Durante a visita, o presidente enfrentou protestos de estudantes, servidores federais e integrantes de partidos de esquerda. Os dois maiores atos reuniram cerca de 200 pessoas, segundo a Polícia Militar, na UFPE. No centro de convenções, enquanto os manifestantes agitavam faixas contra a corrupção e gritavam ''Lula, que traição, tirou do povo pra botar no cuecão'', outro grupo que apoiava o presidente respondia cantando slogans da campanha eleitoral de 2002.
No Centro Regional de Ciências Nucleares, estudantes e militantes políticos aguardaram a chegada do presidente para gritar frases contra a corrupção e a favor da educação.
Depois da palestra, Lula declarou, após ler o discurso oficial, em mais um improviso, que separava as perspectivas do Brasil da atual crise. Segundo ele, o país ''entrou em um momento excepcional'' de sua história, e o governo estava disposto a ''enfrentar o que for necessário'' para provar que o Brasil ''não vai jogar fora essa oportunidade que tem''.
- Doa a quem doer, este país não fugirá ao seu destino. Este país não tem o direito de pensar no atraso.
Na inauguração do Centro Regional de Ciências Nucleares, ouviu o ministro da Ciência e Tecnologia, Eduardo Campos, despedir-se do cargo afirmando que ''a vida de oposição é melhor que a de governo''. Diante do constrangimento geral, Campos emendou: ''Mas vamos passar muitos anos no governo''.
O presidente afirmou ainda que sabia ''das dificuldades'' pelos quais o país está passando, mas que acreditava que ''Deus não faz nada que não seja preciso''. Em seguida, fez um balanço dos seus 30 meses de governo. Na platéia, políticos e intelectuais, entre eles o escritor Ariano Suassuna, ouviram Lula comentar a geração de empregos e comparar os oito anos de governo de Fernando Henrique Cardoso com o seu.
- Em 30 meses, chegamos a 3.135.000 novos empregos de carteira assinada. De 1994 a 2002, foram criados 737 mil empregos. A média mensal de empregos em 8 anos, de carteira assinada, foi de 8 mil empregos. A nossa é de 101 mil novos.
Segundo Lula, ''algumas pessoas'' ficam incomodadas quando vêem o governo ''gastando R$ 7 bilhões com pobre''.
- Perguntam: ''por que esse dinheiro não está no banco para eu pedir emprestado?''. É aquele empréstimo a perder de vista, aquele que não paga nunca mais. Este país tem de agir enquanto nação. Estou feliz, porque os dados que podemos mostrar nesse país são extremamente significativos.