Correio Braziliense, n. 21471, 29/12/2021. Brasil, p. 6

Ajuda insuficiente.

Gabriela Chabalgoity


O número de vítimas das enchentes na Bahia subiu para 21, de acordo com dados divulgados, ontem, pela Superintendência de Proteção e Defesa Civil (Sudec). Além disso, foram contabilizados 34.163 desabrigados,  enquanto os desalojados são 42.929. O estado enfrenta o maior acumulado de chuvas para dezembro nos  últimos 32 anos. De acordo com o Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais  (Cemaden), Itamaraju, no sul da Bahia, foi o município onde mais choveu no Brasil este mês, com  769,8mm, o que representa mais que o quíntuplo da sua climatologia de dezembro (148,0mm).

A 21ª primeira vítima das chuvas é um jovem de 19 anos, que tentou atravessar uma enxurrada em  Ilhéus, na noite de segunda-feira, e acabou se afogando. É o segundo óbito registrado em  Ilhéus. O número de afetados pelas fortes chuvas subiu para 471.786 pessoas, e o de feridos se  manteve estável, em 358. A quantidade de cidades em estado de emergência também aumentou: agora  são 136.

O governo do estado da Bahia afirma que o Instituto do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Inema)  mantém, desde a última sexta-feira, véspera de Natal, esforços para amenizar os estragos causados  pelas fortes chuvas no interior do estado, realizando vistorias técnicas com sua equipe de  fiscalização e monitoramento ambiental, nos municípios do sul, extremo sul e sudoeste, com o objetivo  de verificar os impactos nas barragens.

Foi constatado, durante as vistorias realizadas no local, barragens irregulares que se romperam  no interior do estado, a exemplo de Iguá, Jussiape e Quati. Ações de intervenções emergenciais  foram realizadas, em conjunto com a Superintendência de Proteção e Defesa Civil do Estado  (Sudec), Corpo de Bombeiros (CBMBA) e prefeituras locais, a fim de evitar impactos para a  comunidade local.

Os ministros João Roma (Cidadania), Rogério Marinho (Desenvolvimento Regional), Marcelo  Queiroga (Saúde), Damares Alves (Mulher, Família e Direitos Humanos) e o governador do estado da  Bahia, Rui Costa, realizaram, ontem, entrevista coletiva para anunciar esforços do governo  federal com o intuito de ajudar as famílias atingidas. Além disso, sobrevoaram as áreas mais  afetadas pelas chuvas e enchentes.

Queiroga anunciou, na coletiva, a publicação de uma portaria que determina o repasse de R$ 12  milhões do Fundo Nacional de Saúde para os fundos municipais. E disse que a Saúde irá reforçar a  cobertura vacinal da gripe. Para isso, serão enviadas 100 mil doses de imunizantes, bem como  vacinas para hepatite. Por fim, ele assegurou que médicos da Força Nacional de Saúde serão  enviados para ajudar na cobertura emergencial e na atenção primária. “Gostaria de registrar a  nossa solidariedade em função desta tragédia, que tem trazido tanto sofrimento. O Ministério da  Saúde está em absoluta solidariedade para ajudar o estado da Bahia. O presidente Bolsonaro me ligou  e pediu para que houvesse esforço para auxiliar todo o povo da Bahia”, disse.

A ministra Damares anunciou que a pasta irá atuar junto à Polícia Rodoviária Federal (PRF) para prevenir os desaparecimentos e  garantir o direito das crianças em meio aos estragos provocados pelas chuvas.

Reconstrução 

Também na entrevista coletiva, o governador Rui Costa afirmou que o estado atravessa “o maior  desastre natural da história”. Segundo ele, ainda não é possível dizer quando começará a  reconstrução das áreas destruídas pelas enchentes que atingem o estado este mês.

O governador explicou que a reconstrução de casas não será possível em áreas de risco, próximas a  rios ou em terrenos propensos a deslizamentos. De acordo com ele, a prioridade das obras serão  pontes e estradas essenciais que ligam os municípios a outras regiões e que estejam em locais de  mais fácil acesso. “Agora que a água começa a baixar, a gente vê o estrago que foi feito em casas  de pessoas simples, que fizeram um esforço danado para erguê-las”, lamentou Rui Costa.

Por fim, fez um apelo para que o estado seja prioridade na distribuição de verbas. “Não é  possível recuperar as estradas federais com R$ 80 milhões destinados ao Nordeste. R$ 80 milhões  não dá para recuperar nem (as estradas federais) da Bahia”, pontuou.

Repasse insuficiente  O governo federal anunciou, ontem, repasse de R$ 200 milhões para as ações de enfrentamento ao  estragos causados pela chuva na Bahia. Para o senador Jaques Wagner (PT-BA), presidente da Co missão do Meio Ambiente no Senado e que está à frente da força-tarefa junto com o governador do  estado, o valor será insuficiente para todos os estragos no local.

Ele explicou que não descarta a possibilidade de convocação de emergência para uma votação de  projeto de lei ou medida provisória para destinar auxílio às vítimas das chuvas. Rodrigo Pacheco (PSD-MG), Presidente do Senado, já sinalizou disponibilidade para ajudar. “Falei com ele que  o que mais necessitamos era saber se o Senado tem orçamento que possa ser liberado para ajudar na  recuperação (...) o Congresso, na verdade, está em recesso, mas sempre mantém uma comissão  permanente, mesmo que seja feita a convocação via virtual. Tenho certeza de que as pessoas  atenderão se for essa a motivação”, disse Jaques Wagner.

Ainda é possível fazer doações. As prefeituras das cidades afetadas pelas chuvas criaram campanhas  de arrecadação para ajudar as famílias atingidas. Entre elas estão Itabuna, Mutuípe, Jequié e  Itambé. Instituições privadas e públicas também se mobilizaram para arrecadar donativos para as  vítimas dos temporais no estado. O Corpo de Bombeiros Militar da Bahia (CBMBA) está arrecadando  donativos para as vítimas das chuvas em todo o estado e as doações serão recolhidas em todos os  quartéis.

 *Estagiária sob a supervisão de Andreia Castro

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