O Globo, n. 32784, 11/05/2023. Economia, p. 12

Arcabouço: governo tenta evitar emendas ao texto

Manoel Ventura
Victoria Abel


Deputados e senadores da base do governo tentam conter parlamentares do PT que planejam apresentar sugestões de mudanças no arcabouço fiscal, seja por emendas ou por convencimento do relator da proposta na Câmara, Cláudio Cajado (PP-BA). O deputado ainda não decidiu se apresenta o texto nesta semana. A intenção do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), é votar o projeto na semana que vem.

A orientação da liderança de governo é que o diálogo com Cajado fique centralizado nos ministros de governo, como o chefe da Fazenda, Fernando Haddad, ou nos líderes na Câmara, José Guimarães (PT-CE), no Senado, Jaques Wagner (PT-BA), e no Congresso Nacional, Randolfe Rodrigues (Rede-AP).

O acordo que está sendo costurado entre o PT e a base aliada é que o Partido dos Trabalhadores não apresentará nenhuma emenda como forma de desencorajar as demais legendas.

— Não terão emendas do PT.

Os partidos da base não vão apresentar emendas. A orientação do governo é não apresentar emendas — disse Randolfe ao GLOBO.

Mais investimento

Apesar da orientação, petistas insistem, por exemplo, em abrir mais espaço para investimentos na proposta, como mostrou a colunista do GLOBO Bela Megale. Além do PT, integrantes de outros partidos de esquerda, como PSOL, Rede e PSB, também tentam mudar o texto. Uma das ideias é tirar o Bolsa Família da nova regra e afrouxar os parâmetros de crescimento real dos gastos. O relator já disse que manterá a proposta do governo.

Pelo novo arcabouço fiscal, o aumento real das despesas será equivalente a 70% do incremento das receitas acima da inflação. Mas esse crescimento ficará limitado entre 0,6% e 2,5% ao ano.

Em busca de reduzir o fogo amigo, o líder do PT na Câmara, deputado Zeca Dirceu (PR), também negou que serão apresentadas emendas da bancada:

— Por decisão do governo, o PT não apresentará emendas.

O deputado Carlos Zaratini (PT-SP) lembra, porém, que a apresentação de emendas individuais é um direito dos parlamentares:

—Todo deputado tem a liberdade de apresentar emendas. É um direito do parlamentar. O que está em discussão é se terão emendas destacadas. Em cima do relatório dele (Cajado) é que vamos estudar se destacaremos emendas.

Segundo lideranças do governo, apenas haverá emendas e destaques se for um pedido do Ministério da Fazenda. O discurso é que defender o texto do governo é uma obrigação do PT. Haddad deve ir à Câmara na quarta-feira para discutir o arcabouço.

Enquanto alguns petistas querem afrouxar, a Consultoria de Orçamento e Fiscalização Financeira na Câmara defendeu, em nota técnica, a redução em pelo menos R$ 23 bilhões da base de gastos prevista com o novo arcabouço, o que teria impacto sobre as contas públicas a partir do próximo ano.

R$ 23 bi a menos de gastos

O Orçamento deste ano foi inflado em R$ 168 bilhões por meio da chamada “PEC da Transição”, aprovada no fim do ano passado — desenhada para garantir o Bolsa Família e investimentos em infraestrutura. Com ela, as despesas livres do governo praticamente duplicaram.

A Consultoria da Câmara afirma, porém, que o aumento não foi acompanhado de novas receitas ou fontes compensatórias. “Criou-se um desequilíbrio estrutural em termos de déficit primário que, agora, o governo com medidas de receitas e com o marco fiscal proposto tentará equacionar ao longo dos anos”, afirma o texto.

Assim, os técnicos da Câmara defendem que a base de gastos seja reduzida em pelo menos R$ 23 bilhões, que é o valor equivalente ao excesso de arrecadação de 2021 e foi todo destinado a investimentos.