Título: Prece para os homens-bomba
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Fonte: Jornal do Brasil, 21/07/2005, Internacional, p. A10
A condenação entre os muçulmanos aos extremistas islâmicos autores dos atentados contra o metrô e um ônibus de Londres está longe de ser unânime no mundo árabe. O ataque da Al Qaeda a uma das capitais mais cosmopolitas da Europa foi abençoado pelo pai de Mohamed Atta, piloto do primeiro avião seqüestrado a ser jogado contra uma das Torres do World Trade Center, em Nova York, em 11 de setembro de 2001.
Localizado por uma equipe de reportagem da rede CNN em um apartamento no subúrbio de classe média-alta de Giza, na capital egípcia, Mohamed el-Amir declarou ao repórter Ayman Mohyeldin que gostaria de ver mais atentados suicidas como de Londres. As explosões de quatro bombas, três em galerias do metrô e uma dentro de um ônibus, deixaram 52 mortos - além dos quatro terroristas - e centenas de feridos.
De acordo com a descrição da CNN, o apartamento de El Amir é quase um local de reverência à memória de Atta, tido como o chefe do grupo que realizou a missão contra Nova York e Washington. Por toda parte, porta-retratos exibem fotos do filho - que já era investigado pelos serviços secretos europeus antes do 11/9 em função de ligações da célula extremista de Hamburgo, Alemanha, onde vivia, com a Al Qaeda.
Para o pai de Atta, os ataques aos Estados Unidos e a recente operação em Londres marcaram o início do que acredita ser uma guerra religiosa que vai durar mais de cinqüenta anos, nas quais lutarão muitos outros guerreiros como seu filho. De acordo com sua previsão, outras operações estão planejadas e serão feitas logo.
El Amir fez, ainda, uma comparação que dá bem a medida do fanatismo que professa:
- As células do terror em todo o mundo são uma bomba nuclear que está agora ativada e com o relógio correndo.
O homem, que declarou ter idade em torno de 70 anos, disse que não sente tristeza pelas vítimas das explosões na capital londrina. Para ele, o mundo trata o terrorismo com dois pesos e duas medidas: a forma como as vítimas são vistas quando são ocidentais seriam diferentes da maneira como são vistas as mortes no mundo islâmico.
Falando em árabe, El Amir igualmente aproveitou a oportunidade para denunciar os líderes árabes e muçulmanos que condenaram a ação na Europa. Para ele, são todos ''traidores'' e ''não-muçulmanos''. Depois de amaldiçoá-los, afirmou que fará tudo o que estiver ao seu alcance e usará de toda a força ''para encorajar novos ataques''. Quando o produtor pediu permissão para ligar a câmera e gravar a entrevista, o pai de Atta cobrou-lhe US$ 5 mil.
Perguntado sobre o motivo da cobrança, El Amir, que é advogado, afirmou que não queria o dinheiro para si, mas para doar a outros terroristas. Ele calcula que foi esse o valor gasto para montar as bombas londrinas. A equipe da CNN se recusou a pagar.
Um guarda de segurança do prédio informou que o pai do seqüestrador ficou sob vigilância do governo egípcio após o 11/9, mas que há tempos não é mais monitorado.