Título: Chirac manda emissário negociar com Farc
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Fonte: Jornal do Brasil, 21/07/2005, Internacional, p. A11

Um acordo entre o governo do presidente Jacques Chirac, da França, e a guerrilha das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) permitiu a realização de um encontro entre um emissário de Paris e o número dois da organização, Raúl Reyes, na selva colombiana. O objetivo da reunião foi tentar negociar a libertação da franco-colombiana Ingrid Betancourt, senadora e ex-candidata à presidência pelo Partido Verde, seqüestrada em 23 de fevereiro de 2002. A informação foi divulgada ontem pelo jornal El Tiempo, de Bogotá.

Sem data e local divulgados, o encontro, confirmado pelo ministro do Interior colombiano e pela família da refém, recebeu a autorização do presidente Álvaro Uribe, apesar de ter sido tratado diretamente entre as duas partes. Uribe comprometeu-se a manter os detalhes da reunião no país em segredo.

O acordo com a França foi considerado um gesto de ''boa vontade'' pelo grupo. Segundo o El Tiempo, que baseia a informação em fontes provavelmente ligadas aos serviços secretos colombianos, o emissário francês e o segundo nome da guerrilha conversaram sobre o interesse das Farc no ''intercâmbio de reféns por guerrilheiros doentes em prisões colombianas''.

Em entrevista ao JB em março, Reyes já havia declarado que a guerrilha estaria disposta a negociar caso a Europa retire a organização de sua lista de grupos terroristas.

- Isso nos permitiria evitar conversas na clandestinidade, disse Reyes - referindo-se particularmente à França.

Betancourt, de 42 anos, já foi motivo de incidente diplomático entre Paris e Brasília. Em julho de 2003, o envio de um avião francês C-130 a Manaus para uma suposta operação de resgate da refém, sem o conhecimento do governo brasileiro, resultou em fracasso e num protesto formal de Brasília.

A negociação atual dá sinais de correr em ambiente favorável. Um deles é a coincidência da libertação unilateral pelas Farc de um militar colombiano, a primeira em quatro anos. O soldado Duverney Orozco foi entregue ao Comitê Internacional da Cruz Vermelha terça-feira. Estava em boas condições de saúde.

Orozco foi seqüestrado num ataque à base do Exército em Puerto Asís (Putumayo), fronteira com o Equador, que deixou 22 companheiros seus mortos. Fazia parte da patrulha que vigiava as infra-estruturas petrolíferas de Teteyé, aldeia a 1.000 Km de Bogotá. A operação incluiu sabotagens contra as instalações locais da Empresa Colombiana de Petróleo (Ecopetrol), estatal.

A última libertação unilateral até agora tinha ocorrido em 28 de junho de 2001, quando 242 militares e policiais, capturados pelos rebeldes em diversas operações, foram entregues ao governo do entãopresidente Andrés Pastrana. Em troca, libertou 15 guerrilheiros enfermos.

Segundo comunicado das Farc publicado ontem na imprensa colombiana, ''o novo gesto de paz'' é ''outra prova da vontade política da organização de conseguir a troca (de reféns) por presos políticos, negada pelo governo de Uribe''.

A devolução de Orozco e as negociações em torno de Ingrid Betancourt fazem parte da estratégia de troca. A ex-candidata à presidência da República está entre os 59 colombianos e três americanos que o grupo pretende trocar por 500 rebeldes presos, incluindo os líderes, Simon Trinidad e Rodrigo Granda, o ''chanceler''.