Título: Jovens de classe média são presos
Autor: Ricardo Albuquerque
Fonte: Jornal do Brasil, 22/07/2005, Rio, p. A16

Dez jovens de classe média - entre eles quatro universitários, um advogado e o irmão da apresentadora Livia Lemos - foram presos ontem por agentes da Operação Oceânica da Polícia Civil. Eles são acusados de vender comprimidos de ecstasy e outras drogas em festas raves, boates e lanchonetes de Niterói, Búzios e Rio. As investigações, que começaram há dois meses, incluíram escutas telefônicas, monitoramento do site de relacionamento Orkut e policiais infiltrados em festas raves. A polícia apreendeu três quilos de maconha em Itaipu, Região Oceânica de Niterói, pequena quantidade de skunk e uma pistola PT-380 Plus, em São Domingos. Outros quatro acusados, que não tiveram os nomes divulgados, estão foragidos, mas com mandados de prisão expedidos pela 5ª Vara Criminal de Niterói. Os agentes do Serviço de Repressão a Entorpecentes (SRE) de Niterói constataram que os envolvidos utilizavam o Orkut para divulgar e fazer apologia do ecstasy, conhecido pelos usuários da droga por nomes como Volks Verde, Love Azul e Coração Rosa, entre outros. Segundo o delegado da SRE, Luiz Marcelo Fontoura Xavier, o principal fornecedor do grupo seria Amiello C. Filho, 25 anos, morador do Rio Comprido, na Zona Norte. Ele vendia as pílulas, que custavam de R$ 15 a R$ 20, ao promotor de eventos Thiago de V. Tauil, 23, morador de Icaraí, em Niterói. Nas festas rave e boates, cada comprimido era revendido a R$ 50. Em apenas uma noite de investigação, os policiais constataram que 50 pílulas foram vendidas e consumidas.

- Em pelo menos três festas rave, o copo de água custava R$ 7 por causa da sensação de sede que o comprimido proporciona ao aumentar a temperatura do corpo - explicou o delegado.

De acordo com o inquérito, Thiago também recebia entorpecentes do estudante André K. Archiles, 26, morador do Rio Comprido, e mantinha sociedade com Amon de M. V. Lemos, 19, morador de Búzios e irmão da apresentadora da Sportv, Livia Lemos. Todos alegaram que repassavam os comprimidos cobrando apenas uma cota para consumo próprio.

- Isso não os isenta de serem processados por tráfico e associação ao tráfico - garantiu Álvaro Lins, chefe de Polícia Civil, acrescentando que, caso sejam condenados, poderão pegar de cinco a 20 anos.

Os acusados foram surpreendidos em casa - sete em Niterói, dois no Rio e um em Búzios - pelos agentes da SRE e da 77ª DP (Santa Rosa), que cumpriram dez dos 14 mandados de prisão e 12 dos 13 de busca e apreensão, expedidos pela 5ª Vara Criminal de Niterói. Três quilos de maconha foram apreendidos na casa de Gerson da S. Castanheira Júnior, o Gersinho, 27, em Itaipu, onde também foram detidos Rodrigo A. dos Santos, o Parafina, 25, e o argentino Enrique D. Shiff, 27. Em São Domingos, no prédio onde mora Giovani Arnaud Nicastro, 24, foram encontradas uma pistola PT-380 Plus e skunk, que ele alegou ser para o seu consumo.

As escutas mostraram que Gersinho armou um assalto para extorquir dinheiro dos pais. Segundo as investigações, o dinheiro seria usado para comprar ecstasy que seria repassado ao estudante Guilherme C. Bello, 25, detido na porta de casa, em São Francisco.

Todos os presos estão na 76ª DP (Niterói) e tiveram prisão decretada por 30 dias, exceto o advogado Bruno M. M. da Silva, 25, morador de Icaraí, que será enquadrado nos crimes de formação de quadrilha e estelionato e teve prisão decretada por cinco dias.

- Todos são do asfalto. Não há ninguém de comunidades carentes. São todos de classe média com instrução de nível médio ou superior, mostrando que a droga sintética está mudando o perfil dos traficantes - concluiu Álvaro Lins.