Título: A ilusão do desemprego em queda
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 22/07/2005, Economia & Negócios, p. A21

A falta de oportunidades profissionais está levando o desempregado a desistir de procurar uma vaga no mercado de trabalho. Essa foi a principal razão para a queda no nível de desocupação em junho, que registrou a menor taxa desde março de 2002. A taxa ficou em 9,4% da População Economicamente Ativa (PEA, contingente de pessoas trabalhando ou procurando emprego), de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Em maio, a taxa de desemprego foi de 10,2%.

O resultado de junho pode ser explicado pela redução em 0,8% da PEA em relação a maio e não pela criação de novas vagas, explica o IBGE. Com as dificuldades de contratação, o número de desocupados caiu 8,6% no país entre maio e junho.

Entre as regiões, a maior taxa foi verificada em Salvador (14,7%), seguida de Recife (9,6%), Belo Horizonte (8,5%), Rio (6,9%), São Paulo (10,5%) e Porto Alegre (7,1%).

Já a renda do trabalhador voltou a apresentar alta, de 1,5% em relação a maio. O rendimento médio real do trabalhador ficou em R$ 945,80 em junho, ante R$ 932,80 em maio. A inflação em queda e o aumento do salário mínimo em maio, que passou de R$ 260 para R$ 300, explicam a melhora, após a queda entre abril e maio.

A expansão no semestre ainda não foi suficiente, contudo, para trazer a renda aos níveis do início de 2003. Em média, os trabalhadores ganhavam, em termos reais, R$ 969,47 no primeiro semestre de 2003; R$ 937,60 em igual período de 2004, e R$ 948,75 em 2005.

Segundo Marcelo de Ávila, economista do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), a recuperação do rendimento, na comparação anual, esbarra na perda de fôlego da economia no primeiro semestre, o que impediu a continuidade da melhora iniciada em setembro de 2004.

- No ano, a variação do rendimento deverá ficar perto de zero, porque a economia não deslanchou - disse.

Um outro dado negativo é que a expansão do rendimento foi puxada pelo aumento dos recebimentos dos empregados sem carteira (4,1%). No emprego formal, o avanço foi de 1,3%.

O novo ministro do Trabalho e do Emprego, Luiz Marinho, contestou os resultados da pesquisa, a primeira que recebe à frente da pasta. Segundo o ministro, foram criadas 195 mil novas vagas com carteira assinada em junho. Marinho explica que, diferentemente do Ministério do Trabalho, o IBGE faz uma apuração parcial do desemprego porque não abrange todo o país.

E, se depender do humor do empresário industrial, a criação de vagas formais está comprometida nos próximos meses. Pesquisa da Confederação Nacional da Indústria (CNI) identificou maior pessimismo no setor, motivado pela expectativa de queda nas exportações em razão da desvalorização do dólar. O indicador de expectativa de elevação de faturamento caiu de 57,7 para 54,5 pontos entre abril e julho. Já as perspectivas de abertura de vagas apontam queda de 49,2 para 48,8 no período.