Título: ''Somos uma economia vulnerável''
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Fonte: Jornal do Brasil, 29/07/2005, País, p. A5

Na visita ao Rio Grande do Sul, onde acompanhou as obras de ampliação da refinaria Alberto Pasqualini (Refap), em Canoas, que receberá investimentos de R$ 1 bilhão, o presidente Luis Inácio Lula da Silva enfrentou protestos e mostrou preocupação com os rumos da economia do país, que esta semana viveu dias de instabilidade, com o mercado financeiro oscilando bastante e refletindo o nervosismo do cenário político em convulsão. Em discurso de meia hora para cerca de 800 funcionários da refinaria, o presidente destacou que a economia carece de extremos cuidados neste momento de crise. - Somos, ainda, uma economia muito vulnerável. Temos problemas sérios e não podemos brincar nessa parte para que a gente não tenha um retrocesso. Porque um retrocesso leva anos e anos para a gente recuperar.

Enquanto Lula falava em Canoas, o presidente do Banco Central Henrique Meirelles adotava discurso conflitante ao chegar à reunião do Conselho Monetário Nacional, em Brasília. Para ele, não há razões para preocupação.

- A economia brasileira se encontra hoje com fundamentos muito sólidos. Todos os indicadores são resultado de uma política que é ancorada na realidade brasileira e visa construir uma rota para o crescimento sustentado.

Conflitos de opiniões à parte, Lula tenta estreitar a aproximação com as camadas populares. Ontem, seguidas vezes o presidente quebrou o protocolo, surpreendendo os seguranças. Lembrando o período eleitoral, Lula tomou o celular de uma pessoa para conversar com quem estava na linha, ajudou um operário a manobrar uma máquina perfuradora e, colocando literalmente seus pés na lama, decidiu escalar um barranco para cumprimentar pessoas que gritavam seu nome.

Nos últimos dias, em meio à turbulência política, o presidente tem buscado apoio em seguidores históricos, como sindicalistas, petroleiros e operários. Tudo numa estratégia montada pelo Planalto para amenizar a enxurrada de denúncias. A tática faz com que as viagens pelo país voltem a ser prioridade na agenda presidencial.

Proximo do povo, mas longe dos jornalistas: questionado sobre as denúncias de que sua posse teria sido financiada por empréstimos contraídos pelo PT em 2003, Lula recusou-se a falar sobre o assunto.

Lula, que estava acompanhado dos ministros Silas Rondeau (Minas e Energia), Alfredo do Nascimento (Transportes) e Tarso Genro (Educação), além do governador do RS, Germano Rigotto, e do presidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli, aproveitou para alfinetar os adversários.

- Há muita gente azeda no país. São aqueles que estão sempre torcendo para acontecer uma desgraça para terem razão, que passam 24 horas por dia acreditando que as coisas não têm que dar certo - protestou.

A agenda política do presidente no Rio Grande do Sul teve ainda visita às obras de duplicação da BR-101, em Osório, e uma reunião política com deputados petistas e com o ministro Tarso Genro (Educação), que vai se desligar do governo para dedicar-se integralmente à presidência do PT.

Mas a viagem não foi feita apenas de discursos queixosos, reuniões políticas e acompanhamento de obras. Lula enfrentou protestos na manhã de ontem, quando saía do hotel em que estava hospedado no Centro de Porto Alegre. A manifestação reuniu membros do PSTU, do P-SOL e grevistas do INSS e tumultuou a saída da comitiva. Houve confrontos entre a Brigada Militar e os manifestantes, que jogavam ovos e pedaços de pau, e gritavam palavras de ordem como ''Lula, que papelão, no seu governo só tem corrupção'', ''Lula, que traição, tirou do povo para pagar o mensalão''. ou ''Lula, você sabia, Marcos Valério é o seu PC Farias''. Quatro pessoas acabaram presas pelos policiais - e liberados logo em seguida.

A principal parte da manifestação ocorreu na chamada Esquina Democrática (rua dos Andradas, a mais importante do centro da capital gaúcha, com avenida Borges de Medeiros). Uma das principais lideranças do ato foi a deputada Luciana Genro (PSOL-RS), expulsa do PT e filha do presidente da sigla, Tarso Genro.

- Não temos nenhuma confiança nos dois blocos da CPI. Nem no governo e no PP; nem no PSDB e no PFL - comentou.

Perguntada sobre a atuação de seu pai na presidência do partido - ele assumiu o lugar de José Genoino, que renunciou -, Luciana foi contundente.

- O problema do PT não é só ético e moral. Se fosse, talvez ele até pudesse resolver. O problema são as políticas desenvolvidas pelo comando nacional do PT, que levaram a essa situação. São o abandono das bandeiras históricas, as alianças espúrias com os partidos representantes das oligarquias mais podres do país.

De acordo com o sindicato dos previdenciários, o protesto teve como motivação a situação salarial da categoria, em greve há dois meses . Mas a adesão de representantes de outras categorias, que fez o número de manifestantes saltar de cerca de 200 para 2 mil, segundo estimativas da PM, ampliou o campo de críticas.