Título: Crianças HIV positivas agonizam
Autor: Claudia Bojunga
Fonte: Jornal do Brasil, 29/07/2005, Internacional, p. A12

A organização Médicos Sem Fronteiras (MSF) fez um alerta para a gravidade da situação das crianças com aids. Além do problema de acesso aos medicamentos, não foram desenvolvidas, ainda, formulações pediátricas adequadas dos anti-retrovirais.

Para combater a crise, a organização realizou um projeto onde buscou soluções criativas para o tratamento de aids infantil. Os resultados da pesquisa são promissores: 83,9% dos pacientes sobreviveram graças à campanha do MSF. Após seis meses, a probabilidade de sobrevivência era de 94% e, depois de 18 meses, as crianças ganharam uma média de 4 kg.

O estudo foi realizado em 11 países (Guatemala, Honduras, Burkina Faso, Camboja, China, Quênia, Laos, Maláui, Moçambique, Tailândia e Uganda ) com 1.840 crianças HIV positivas, menores de 13 anos.

As famílias foram acompanhadas por programas educativos que ensinavam a utilização correta dos remédios. Outra medida implementada foi distribuir cartelas aos médicos que mostravam a dosagem para cada paciente de acordo com sua idade e peso.

- Embora esses resultados sejam encorajadores, ainda há enormes obstáculos que impedem aumento do número de crianças atendidas - afirmou ao JB o pediatra e coordenador da equipe internacional de aids do MSF, Pierre Humblet, que esteve na 3ª Conferência da Sociedade Internacional de Aids sobre Patogênese e Tratamento, encerrada ontem, ontem no Rio.

Segundo o médico, um dos principais problemas é a necessidade de partir comprimidos para chegar à dose certa.

- O paciente pode acabar, assim, recebendo a quantidade errada da droga - explica o especialista.

Atualmente são 2,2 milhões de crianças HIV positivas no mundo, a metade morre antes de completar dois anos, de acordo com dados da Organização Mundial de Saúde (OMS). O pior cenário é na África, onde estima-se que 600 mil não têm tratamento.

- As indústrias farmacêuticas têm pouco interesse em pesquisas de medicamentos direcionados a esses pacientes. A maioria deles está no mundo subdesenvolvido, onde muitos bebês não são diagnosticados ao nascerem - observa Humblet.

- Os testes de HIV disponíveis nos países em desenvolvimento só conseguem determinar se um bebê é soropositivo após 18 meses - diz Felipe Garcia de la Vega, pediatra e especialista em HIV/Aids da Campanha de Acesso a Medicamentos Essenciais do MSF.

Agrava a crise o fato de, nessas regiões, a transmissão de mãe para filho ter índices muito altos. Na África, cerca de 1,8 milhão de crianças são infectadas dessa forma.