Título: PT, PP e PL tiveram sobra de campanha em 2004
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 01/08/2005, País, p. A4

Sobrou dinheiro nas campanhas do PT, PL e do PP no ano passado. É o que demonstra a prestação de contas dos diretórios nacionais desses partidos ao Tribunal Superior Eleitoral. O PT informou ao tribunal que dos recursos arrecadados para as campanhas municipais em 2004, R$ 51,2 mil não foram gastos. No PL, o que restou foram R$ 173,46, e, no PP, R$ 349,74.

Na definição da Lei Eleitoral, sobras de campanha são a diferença positiva entre os recursos arrecadados e as despesas realizadas em campanha, seja em espécie ou bens. Também são contabilizados nessa rubrica os recursos de origem não identificada.

Uma resolução do Diretório Nacional do PT transmitida aos diretórios regionais e municipais em 30 de agosto do ano passado informou que ''todos os candidatos e comitês financeiros têm de depositar as sobras de campanha na conta corrente do Diretório Nacional do PT no Banco do Brasil''.

Como mostrado pelo JB na edição de ontem, as prestações de contas dos partidos se tornaram peças de ficção. No documento apresentado ao TSE, o PT, por exemplo, informou o salário de R$ 2 mil para Delúbio Soares, valor bem abaixo do revelado à CPI. Também foram identificados lançamentos de quantias irrisórias, como R$ 7 para lavar um carro de campanha, ou uma doação de R$ 20 feita pelo ex-diretor do Banco do Brasil, Henrique Pizzolato, acusado de ter sacado mais de R$ 300 mil das contas de Valério.

Em depoimento à CPI dos Correios, mês passado, o ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares repetiu à exaustão que procurou o amigo Marcos Valério Fernandes de Souza e lhe pediu para que suas empresas tomassem empréstimos na rede bancária e lhe repassasse, via caixa dois - que ele insistentemente chamou de ''recursos não contabilizados''--, para destinar ao PT e aos partidos da bancada governista que se encontravam em dificuldades financeiras por causa das eleições. O valor do caixa dois atingiria R$ 39 milhões e serviria também, segundo Delúbio, para a preparação das eleições do ano passado. Segundo o deputado Roberto Jefferson, o dinheiro financiaria o mensalão.

A CPI dos Correios já identificou assessores de parlamentares do PT, PL e do PP entre os sacadores de dinheiro das empresas de Marcos Valério no Banco Rural. Mais recentemente, descobriu-se que havia, entre as pessoas que efetuavam os saques, representantes de outros partidos, como o PTB, PFL e o PSDB.

Pelo menos oficialmente, a saúde financeira das legendas que apóiam o governo vai bem. A do PL, aliás, vai muito bem. Segundo a prestação de contas do partido ao TSE, o PL teve um superávit de R$ 2,5 milhões em 2003, e de R$ 588 mil em 2004. Neste ano, o partido declarou que até houve sobra de campanha: R$ 173,46. No caso do PL, o ex-tesoureiro do partido Jacinto Lamas foi um dos maiores destinatários de dinheiro proveniente da conta da SMPB, na agência do Banco Rural, em Brasília. Somados, os recursos atingem R$ 1,3 milhão. Foram sete saques, entre setembro de 2003 e janeiro de 2004 - algumas das retiradas aconteceram mais de uma vez em apenas um dia.

Embora deficitário, o PP informou que teve sobras de campanha. Em 2003, com um déficit oficial de R$ 530 mil, a legenda deixou de gastar R$ 19,2 mil em campanhas. Em 2004, o déficit baixou para R$ 454 mil, e as sobras foram de R$ 349,74. João Cláudio de Carvalho Genu, assessor do deputado José Janene (PR), líder do PP na Câmara, sacou R$ 1,1 milhão da conta da SMPB.

O PT de Delúbio teve um déficit oficial de R$ 20,2 milhões ano passado. Mas suas sobras de campanha foram maiores do que as dos dois aliados: R$ 51,2 mil.