Título: Os rumos da esquerda
Autor: Paulo Celso Pereira e Rodrigo de Almeida
Fonte: Jornal do Brasil, 01/08/2005, País, p. A7

Enquanto grande parte da esquerda do PT aguarda o Processo de Eleições Diretas para definir seu futuro, outro grupo monta as barricadas e promete lutar dentro do partido independente do resultado. À frente de uma das principais candidaturas da esquerda, Valter Pomar - representante da Articulação de Esquerda - vê dois erros entre os militantes que pensam em deixar o partido.

-Falar em sair do PT é fazer o que o Campo Majoritário quer, porque desestimula os filiados a irem votar, justo no momento em que podemos ganhar o PT de volta. E estrategicamente há um erro porque se o PT for derrotado será uma derrota para toda a esquerda.

Ao avaliar as chances eleitorais da esquerda, Pomar é otimista. Segundo ele, não há chances de o Campo Majoritário vencer as eleições. Em 2001, no auge de sua gestão, a tendência teve 52% dos votos no primeiro turno. Vivendo a maior crise de sua história, as chances de repetir o desempenho são irrelevantes, diz.

- Há um descontentamento enorme na base do partido e uma desorientação na base do Campo Majoritário. É uma eleição em dois turnos, quem tem obrigação de ganhar no primeiro turno é o Campo, por isso quanto mais candidatos de esquerda tivermos, melhor. No segundo turno, a esquerda e o centro serão maioria e será eleito um presidente de esquerda. Afinal, o Tarso Genro é um candidato de direita. Ele não é uma refundação, ele é uma 'reafundação' do PT - ataca.

Pomar questiona a data para a saída do PT, especialmente vinculada ao calendário eleitoral.

- Se alguém quiser sair, que saia agora. É uma contradição fazer um discurso de esquerda e depois procurar uma legenda para se candidatar - critica.

O sociólogo Emir Sader também questiona o que chama de ''perspectiva eleitoralista''. Para o professor da Uerj, é tarefa fundamental identificar o melhor lugar para resgatar os rumos da esquerda.

- Esse lugar ainda é o PT.

Segundo o sociólogo, sair do partido significará fazer oposição ao governo Lula. Uma estratégia que, para ele, não representa a melhor opção. (P.C.P. e R.A.)