Título: Sonho e realidade
Autor: Paulo Celso Pereira e Rodrigo de Almeida
Fonte: Jornal do Brasil, 01/08/2005, País, p. A7

Em 25 anos, o PT passou por inúmeras crises. Mas, longe do Planalto, as proporções eram menores. Muitas vezes, os desentendimentos eram abafados. Uma das primeiras mudanças de rumo coincidiu com a queda do Muro de Berlim. Em 1989, quando o partido disputava pela primeira vez uma eleição presidencial, o mundo vivia uma desilusão socialista. Na carona do novo cenário mundial, o PT precisou conciliar a inspiração socialista à realidade das urnas. Perdeu a eleição para Collor, mas, aos poucos, conquistou espaço no Parlamento. À medida que conquistava cargos públicos, crescia a disputa interna. Parte do PT via as urnas como um arranjo democrático para o impulso revolucionário morto com o fim do socialismo. A outra parte considerava que a carta de fundação do PT deveria prevalecer.

Venceu o primeiro grupo. Assim, em 1995, com a eleição de José Dirceu para a presidência, o PT sofreu seu segundo choque: o da profissionalização. A preocupação com as finanças e a canalização de um objetivo maior distanciaram os integrantes do partido. A organização, com o objetivo da Presidência da República, transferiu forças ao comando. Constituiu-se o Campo Majoritário, liderado por Dirceu.

Os embates internos prosseguiram. O encontro nacional do PT em Recife, em 2001, foi o marco da atual postura da legenda. Embora pregasse a mudança, Lula comprometia-se com a ortodoxia econômica que ainda hoje motiva as principais dissidências da esquerda petista.