Título: Londrina engrossa a lista do caixa 2
Autor: Sérgio Pardellas e Hugo Marques
Fonte: Jornal do Brasil, 30/07/2005, País, p. A3

Soraya Garcia, assessora financeira da campanha à reeleição do prefeito de Londrina Nedson Luiz Micheletti (PT), abre uma nova frente de investigações sobre a existência do caixa 2 de campanha. Envolve o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, e o deputado José Dirceu (PT-SP). Em denúncia sob apuração do Ministério Público, da Polícia Federal e em entrevista ao Jornal do Brasil, Soraya contou ter participado da montagem de um milionário esquema não contabilizado de dinheiro que totalizou R$ 6,5 milhões. Oficialmente, o prefeito declarou R$ 1,3 milhão ao Tribunal Regional Eleitoral (TRE). - Sou caixa 2. Sou funcionária de caixa 2. Estava no coração do negócio - assegurou Soraya na entrevista.

A existência do caixa 2 era do conhecimento do prefeito Nedson Micheletti, afirmou. Em 18 de setembro de 2004, a campanha petista em Londrina recebeu a visita do então ministro da Casa Civil, José Dirceu, ''durante festejos no Centro de Convenções'', relatou. Dois dias depois começaram a chegar os recursos para o caixa 2 da campanha local.

- A gente estava sem recursos. Depois que o Zé Dirceu veio aqui, o dinheiro apareceu. Ele esteve aqui em 18 de setembro de 2004, num sábado. Na segunda-feira tinha dinheiro. Começou a entrar verba no extra e no oficial - detalhou a assessora.

A partir de então, o caixa 2 passou a ser periodicamente abastecido. Segundo Soraya, há ''indícios'' de que o então deputado Paulo Bernardo ajudava o esquema.

- Quando ele vinha para a cidade, aparecia o dinheiro. O Paulo Bernardo sabia que entrava - afirmou.

Em nota encaminhada ao JB, o ministro Paulo Bernardo lembrou que, como é do conhecimento da população paranaense, na condição de deputado federal do PT, apoiou a reeleição de Nedson Micheletti para a prefeitura de Londrina. Mas negou ter participado da administração da campanha embora acredite ''firmemente que a mesma foi conduzida dentro dos parâmetros estabelecidos na lei'' . Afirmou ainda nunca ter tido contato com a assessora financeira.

- Nunca conversei com a senhora Soraia Garcia, nem antes nem depois da campanha.

Na nota, o ministro repudiou ''veementemente as insinuações caluniosas que tentam envolver meu nome em supostas irregularidades na captação de recursos para a campanha do atual prefeito''.

- Tomarei as providências legais cabíveis - assegurou.

O deputado José Dirceu não foi encontrado por sua assessoria para comentar o caso. Em nota oficial, o prefeito Nedson Micheletti informou que toda contabilidade da campanha de 2004 está registrada na Justiça Eleitoral. Sobre a ação da PF, que na quinta-feira apreendeu documentos na sede do PT na cidade, o prefeito disse não temer a investigação. Afirmou ainda que não vai aceitar qualquer tentativa de vincular sua campanha de reeleição com as denúncias e suspeitas que envolvem o PT nacional.

Antes da entrevista ao JB, Soraya relatou a história ao Ministério Público (MP) e a um parlamentar na Câmara. Forneceu detalhada lista de compras e empresas e uma agenda recheada de informações. Foi o depoimento que motivou o MP Eleitoral a determinar à PF a operação de busca e apreensão da quinta=feira na sede do diretório do PT de Londrina, na casa do presidente do partido, Jaques Aparecido Dias, de Francisco Moreno, também do PT local, e de Augusto Hermeto Dias Júnior, da executiva municipal e secretário de Gestão Pública da Prefeitura de Londrina. Ambos acusados por Soraya de distribuir o dinheiro do caixa 2.

Pelos cálculos de Soraya, durante a campanha, Paulo Bernardo passou 45 dias intercalados na cidade. O então deputado apoiava a eleição do vereador Gláudio Renato Lima (PT), que também teria recebido o dinheiro não contabilizado.

- O Gláudio recebeu caixa 2 pela Cirene, que trabalhava para ele. Ela recebeu R$ 400 mil. Eu passava o dinheiro para a Cirene - revelou Soraya Garcia.

A assessora assegurou que pelo menos 80 candidatos a vereador operaram com o caixa 2. Somando-se aos cabos eleitorais, mais de 200 pessoas teriam sido beneficiadas pelo dinheiro ''extra'', contou.

- O pessoal de comunicação e o de base de campanha, que a gente contrata no dia da campanha, também recebeu. O dinheiro chegava ao comitê central da campanha em saquinhos de compra, sacos de lojas de artigos para bebês e de supermercado - relatou.