Título: Turbulência política afeta confiança do consumidor
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Fonte: Jornal do Brasil, 30/07/2005, Economia & Negócios, p. A17
A crise política instalada em Brasília desde as denúncias de pagamento de mensalão a deputados pode não ter, até o momento, afetado os fundamentos econômicos do país, mas já causou estragos na confiança do consumidor brasileiro. A vigésima Sondagem de Expectativas do Consumidor da Fundação Getúlio Vargas (FGV), divulgada ontem, apurou queda na confiança pelo segundo mês seguido.
De acordo com a pesquisa da FGV, a insatisfação do consumidor com a economia brasileira vem crescendo desde fevereiro. No mês de maio, no entanto, a pesquisa havia captado estabilidade no nível de respostas dos entrevistados.
Em julho, dos oito quesitos da pesquisa, quatro apresentaram resultados piores, com destaque para as questões relacionadas à situação econômica do país.
- Aparentemente, a combinação do desaquecimento da economia com a crise política está fazendo com que a confiança do consumidor diminua. Nos próximos meses, a evolução desses dois fatores vai ser importante para determinar se a confiança vai melhorar - afirmou o coordenador da pesquisa, Aloisio Campelo.
Segundo ele, pela primeira vez a pesquisa da FGV verificou manifestação espontânea de menções à crise entre os entrevistados.
Dos 1.508 entrevistados, 11,9% avaliam a situação econômica do país como melhor do que a verificada nos seis meses anteriores. Em junho, este percentual era de 12,8%.
A parcela dos que consideram que a situação está pior passou de 35,6% para 37,3%. Trata-se do maior patamar desde abril do ano passado - o ponto mais baixo da série histórica da pesquisa foi registrado com a explosão do escândalo Waldomiro Diniz.
O consumidor também mostra cautela quanto às expectativas sobre o futuro da economia do país nos próximos seis meses. A parcela de consumidores otimistas atingiu o menor patamar da série histórica: 29,6%. A parcela de pessimistas passou de 20,1% para 22,3%.
Houve piora também na avaliação da economia familiar. Para 17,3% dos entrevistados, as finanças familiares estão melhores do que nos seis meses anteriores. Em junho, esse percentual era de 21,7%. O grupo de entrevistados que verificou deterioração no período passou de 21,1% para 22,1%. As expectativas quanto ao futuro da economia familiar ficaram praticamente estáveis em relação a junho.
A pesquisa detectou também um aumento do número dos que se dizem endividados. O percentual de devedores passou de 29,5% para 30,4%. Apenas 12,9% informaram ter conseguido fechar o mês poupando.
Diante desse cenário, o consumidor está menos propenso a realizar compras de bens de alto valor, como eletrodomésticos, computadores ou carros nos próximos seis meses. A parcela dos que pretendem gastar mais passou de 13,9% para 12,5%.