Título: Esforço recorde em vão
Autor: Silmara Cossolino
Fonte: Jornal do Brasil, 30/07/2005, Economia & Negócios, p. A19

O setor público economizou R$ 9,62 bilhões em junho para o pagamento da dívida - o superávit primário. Foi o maior resultado para o mês desde o início da computação da série, em 1991, e supera ainda o esforço fiscal de maio, que também havia sido recorde, de R$ 6,31 bilhões. Mesmo assim, não foi suficiente para pagar os juros que incidem sobre a dívida, que no mês passado totalizaram R$ 15,23 bilhões. Os gastos com o chamado serviço da dívida atingiram o mais elevado nível desde janeiro de 2003. Naquela ocasião, as despesas com juros totalizaram R$ 17,63 bilhões.

Neste ano, o montante despendido em juros já soma R$ 80,12 bilhões, o maior para o primeiro semestre desde 1991. O chefe do Departamento Econômico do Banco Central, Altamir Lopes justificou o aumento pelo impacto da taxa básica de juros (Selic), que na última semana foi mantida em 19,75% ao ano pelo Comitê de Política Monetária (Copom).

- Há uma mudança na composição do endividamento. Temos uma dívida mais sensível à Selic, o que acaba afetando o pagamento de juros - disse.

Com a alta da Selic, somente o governo federal gastou em juros R$ 13,955 bilhões no mês passado, ante R$ 10,133 bilhões em maio.

O pagamento de juros superou em mais de R$ 20 bilhões o esforço fiscal realizado no mês. De janeiro a junho deste ano, o superávit primário atingiu R$ 59,95 bilhões. O resultado acumulado neste período equivale a 6,4% do PIB e também constitui o melhor da série, iniciada em 1991. Ele já cumpre a meta estabelecida para até o mês de agosto, que é de R$ 60,184 bilhões.

Somente o Governo Central foi responsável por um esforço fiscal de R$ 40,4 bilhões, o equivalente a 4,3% do Produto Interno Bruto (PIB). Já os governos regionais (estados e municípios) participaram com R$ 13,7 bilhões (1,5% do PIB) e as empresas estatais nos níveis federal, estadual e municipal fizeram saldo positivo de R$ 5,8 bilhões (0,6% do PIB).

Considerando-se o fluxo acumulado nos últimos 12 meses, o superávit primário passou de R$ 93,2 bilhões em maio (5% do PIB) para R$ 94,9 bilhões em junho (5,1% do PIB).

- Estamos no caminho certo. Essa é a dinâmica que se tem para cumprir a meta estabelecida para o ano - afirmou Lopes.

Para 2005, a meta fixada é de R$ 83,850 bilhões.

A dívida líquida do setor público alcançou R$ 965,988 bilhões em junho, o equivalente a 50,9% do PIB. O montante ficou um pouco acima do mês de maio, quando a dívida chegou a R$ 957,570 bilhões (50,6% do PIB).