Título: O exército de 'espiões' vermelhos
Autor: Clara Cavour
Fonte: Jornal do Brasil, 31/07/2005, Internacional, p. A15
A próxima superpotência do mundo vem utilizando um método no mínimo polêmico para crescer economicamente. Denúncias recentes indicariam que a República Popular da China, com seus 1,3 bilhão de habitantes, possui, além de um exército de mão-de-obra barata, estudantes e profissionais dispostos a ''roubar'' tecnologia estrangeira em nome de um nacionalismo que ganha adeptos junto com o crescimento do país.
Com a abertura ao mercado global há pouco mais de duas décadas, o país comunista conheceu as empresas privadas, capitalistas. Indústrias ocidentais instalaram-se no território de olho nas vantagens oferecidas e hoje seriam alvo de uma espionagem sutil, dentro e fora das fronteiras. A Inteligência chinesa utiliza técnicas russas da Guerra Fria para obter acesso às mais avançadas tecnologias, menosprezando leis de propriedade intelectual.
No começo de julho, um desertor chinês residente na Bélgica confirmou que existe mesmo essa rede de espiões. Ex-agente, informou que os colegas estão por toda parte, principalmente Europa, Estados Unidos, Canadá e Austrália. A denúncia foi feita depois da prisão de uma estudante na França. Li-Li Whuang, de 22 anos, foi acusada de ''intrusão ilegal em bancos de dados'' de uma empresa fabricante de peças de automóveis.
Na Austrália, o ex-diplomata chinês Chen Yoglin, que aguarda asilo político, confirmou que Pequim tem pelo menos mil desses agentes no país.
Entretanto, segundo o analista militar americano James Dunnigan, muitas dessas pessoas ''não sabem que são espiãs''. Em entrevista ao JB, de Washington, afirmou que os chineses, mesmo turistas, são aconselhados a voltar com qualquer informação ''que possa ajudar a pátria'', quando viajam ao exterior:
- A maioria não age assim. Apenas são interrogados por oficiais chineses na volta - adianta.
Para o analista, assim como Moscou na Guerra Fria, Pequim percebeu que informações úteis podem ser obtidas ''legalmente'', no cotidiano do trabalho, em conversas informais e até em publicações aparentemente sem importância.
Na opinião de Joseph D'Cruz, professor da Universidade de Toronto (que hoje possui 4 mil estudantes vindos do gigante asiático), a atividade ilegal acontece mais em território chinês do que no exterior:
- Lá não ocorre uma aplicação rígida das leis de propriedade intelectual. Assim, obtêm tecnologia estrangeira e transformam produtos caros em baratos - acrescentou.
Em 25 anos, 600 mil estudantes foram mandados ao exterior. Com o controle da educação, fica fácil para o Partido Comunista (PC) cooptar ''espiões''. Apesar da prática ser recorrente em outros países, na China tomou proporções sem precedentes, além de ter sido muito bem-sucedida.