Título: Dia D para Dirceu e Jefferson
Autor: Sérgio Pardellas e Renata Moura
Fonte: Jornal do Brasil, 02/08/2005, País, p. A5

Ao subir hoje, às 14h30, ao palco do Conselho de Ética da Câmara, num depoimento aguardado com ansiedade por governo e oposição, o deputado José Dirceu (PT-SP), se assumirá como operador político do governo mas dirá que as transações financeiras do Planalto e PT não eram de sua responsabilidade.

As linhas gerais do depoimento foram reveladas ontem ao JB por interlocutores do Planalto. Na primeira parte do pronunciamento, o deputado se limitará a fazer um histórico de sua atuação como chefe da Casa Civil até 17 de junho deste ano, quando deixou o cargo bombardeado por denúncias do deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ), de que seria o principal mentor do mensalão. Em seguida, descartará a renúncia. Até a noite de ontem, não passava pela mente de Dirceu prescindir do cargo. A amigos confidenciou: lutará até o fim para provar sua suposta inocência.

A platéia reunida pode esperar um Dirceu mais humilde. Sem a usual prepotência que o caracterizou nos tempos de ''trator'' do Planalto.

Aos que conversaram ontem com o ex-ministro, no entanto, permanecia a dúvida de como ele explicaria as reuniões com dirigentes dos bancos BMG e Banco Rural.

Segundo Valério, a ex-mulher de Dirceu, Maria Ângela da Silva Saragoça conseguiu emprego numa agência do BMG em São Paulo e um empréstimo habitacional de R$ 200 mil, do Banco Rural. O que comprovaria que o ex-ministro obteve favorecimentos pessoais das duas instituições já identificadas como fonte de pagamento do ''suposto suborno''.

Na avaliação de políticos de diversos partidos, ao sentar-se à cadeira para prestar explicações e se submeter às inquietações de seus pares, Dirceu não falará apenas por si: será o governo que estará ali representado. O grande mistério é como Dirceu tratará o governo. Companheiros petistas falam de uma personalidade dividida entre duas forças: o homem de partido, que coloca o projeto político petista acima de tudo, e o dirigente temeroso de destruir sua biografia e passar para a história não como o idealista revolucionário dos anos 60 e 70, mas como um corrupto.

Segundo o criminalista José Luís Lima, que representa Dirceu, o ex-ministro não deixará pergunta sem resposta.

- Ele responderá a tudo e dirá a verdade. Não tem preocupação nenhuma com o encontro com Jefferson - declarou.