Título: Decifrando a História
Autor: Claudia Bojunga
Fonte: Jornal do Brasil, 02/08/2005, Saúde & Ciência, p. A12

A análise de fósseis, de ossos, crânios, dentaduras e múmias pré-históricas, além de dar pistas do comportamento social do homem no passado, também revela dados sobre sua saúde. A paleopatologia é a ciência que se dedica aos estudos das doenças antigas.

O campo abre a possibilidade de se analisar a evolução dos mais diversos males ao longo da História. Sendo possível assim concluir como mudanças no modo de vida influenciaram na saúde coletiva de diferentes po pulações do mundo. Um exemplo disso são os efeitos nos indivíduos onde houve alteração da economia de caça e coleta para a agricultura.

- As plantações de milho e mandioca aumentaram o consumo de carboidrato, o que comprovadamente, aumentou a incidência de cárie de um modo geral - afirma a paleopatologista da Escola Nacional de Saúde Pública, da Fundação Oswaldo Cruz, Sheila Mendonça.

A pesquisadora organizou o I Encontro da Associação de Paleopatologia da América do Sul, que reuniu dezenas de participantes. Sheila conta que os maias, habitantes da América há cerca de mil anos, por sua alimentação baseada 90% em milho, tinham muitos casos de anemia. O alimento é pobre em ferro. O problema era muito freqüente em crianças.

Segundo a cientista, nesses casos, observou-se também que a anemia não era tão prejudicial. Já que depois da infância a moléstia desaparecia sem deixar maiores danos:

- O organismo desses indivíduos deve ter criado uma proteção adaptativa em um ambiente propício a infecções - explica - Atualmente, sabe-se que a anemia protege o corpo desse tipo de doença, já que as bactérias se alimentam de ferro.

Além da análise evolutiva, outra vantagem da paleopatologia são as circunstâncias da análise epidemiológica:

- É como um experimento em laboratório com menos variáveis e condições controladas - observa.

A Paleopatologia tem origem no século XVIII, quando começavam os primeiros estudos com fósseis no mundo. Os primeiros trabalhos foram com animais. Mas logo depois houve, segundo Sheila, um ''boom'' de trabalhos na área. (C.B)