Título: Início de faxina alivia mercado
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Fonte: Jornal do Brasil, 02/08/2005, Economia & Negócios, p. A17
O primeiro sinal de que a crise política começa a dar resultados práticos, o que encerraria o período de incertezas no campo político, inverteu a tendência negativa que tomava conta do mercado no início da semana. A renúncia do presidente do PL, o deputado federal Valdemar Costa Neto (SP), foi aprovada e levou ânimo ao mercado financeiro. A Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), que operou em leve baixa durante quase todo o pregão, virou após o discurso do deputado e fechou com alta de 0,98%. O dólar seguiu o efeito e voltou a ficar mais distante dos R$ 2,40, registrando queda de 0,46%, aos R$ 2,369. Pela manhã, a pressão sobre o preço do petróleo ¿ que atingiu novo recorde ontem ¿ e a alta dos juros pagos nos títulos americanos focaram a atenção dos investidores domésticos. Mas a renúncia do deputado do PL ¿ acusado de envolvimento no suposto esquema do mensalão ¿ foi encarada pelo mercado como sinal de que a crise política pode começar a se esvaziar.
Hoje, porém o depoimento de José Dirceu, ex-ministro-chefe da Casa Civil, ao Conselho de Ética da Câmara deve voltar a trazer turbulência ao mercado.
Apesar do ânimo no fim do dia, a movimentação da bolsa não foi das maiores das últimas semanas e ficou em R$ 1,106 bilhão.
O lucro recorde alcançado pelo Itaú no primeiro semestre foi um dos que puxaram o movimento positivo da Bovespa, com alta de 2,26%.
¿ Sem dúvida nenhuma a Bolsa deu um pulo na hora da renúncia do presidente do PL ¿ disse Luiz Antonio Vaz das Neves, da corretora Planner.
Segundo ele, entre os operadores circularam boatos de que o deputado José Dirceu (ex-ministro da Casa Civil) também renunciaria.
¿ Se o Dirceu renunciar, a Bolsa sobe forte, porque sinalizaria uma solução rápida para a crise política ¿ avalia o analista.
No mercado cambial, o dólar reduziu a volatilidade. O cenário adverso lá fora deu o tom nos negócios até o início da tarde, mas o resultado recorde na balança comercial em julho e a influência política ajudaram a emitir sinais positivos que dissiparam movimentos de alta da taxa de câmbio. Com isso, o dólar voltou ao patamar de R$ 2,36.
Na avaliação de Júlio César Vogeler, da corretora Didier Levy, com a subida do dólar pela manhã, quem tinha divisa na carteira aproveitou para vender um pouco mais caro. O excesso de oferta também ajudou a fazer a moeda americana recuar.
Para muitos analistas, o dólar não vai se recuperar enquanto o país continuar a adotar a taxa de juros mais alta do mundo. E a aposta mais aceita é de que não será neste mês que o BC tomará uma decisão que rompa a valorização excessiva da moeda brasileira.
Na pesquisa Focus do Banco Central, com analistas de 100 instituições financeiras do país, a maioria conservou a expectativa de que a taxa Selic será mantida em 19,75% ao ano após a reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) deste mês. Foi a décima semana em que o palpite na manutenção da taxa em agosto foi mantido. A previsão para a taxa básica de juros no fim do período também ficou inalterada, em 17,88%.