Título: Esquerda do PT tenta manter eleição
Autor: Mariana Santos
Fonte: Jornal do Brasil, 02/08/2005, Brasília, p. D3

As correntes de esquerda e do chamado Campo Majoritário prometem travar um intenso debate sobre o possível adiamento do Processo de Eleições Diretas (PED), marcado para 18 de setembro, realizado pelo Partido dos Trabalhadores para escolha dos dirigentes regionais e nacional. No final desta semana, a direção nacional reúne-se para discutir o assunto. Até lá, o PT-DF espera consolidar uma decisão a ser defendida no encontro em São Paulo. Mesmo sem poder terminativo, os petistas brasilienses de esquerda acreditam que a tentativa de adiamento é uma ''manobra'' para evitar o crescimento destas correntes sobre os majoritários. O tema foi debatido na noite de ontem durante encontro da Executiva Regional.

- Repudiamos esta tentativa golpista de vestir uma camisa de força nas esquerdas partidárias - diz Toninho, secretário-geral do PT-DF.

A esquerda reclama de falta de participação nos debates da cúpula petista e acredita que o PED pode ser um marco na decisão da permanência de parlamentares na legenda. Hoje, há um forte movimento interno que estuda uma desfiliação caso percam as expectativas do que chamam de ''resgate ético''. No entanto, o prazo final para filiações de quem pretende participar das eleições do ano que vem termina em outubro. Integrante da Articulação - maior corrente do partido - o deputado distrital Chico Vigilante classifica como ''posição cínica'' a dos companheiros.

- Defendo o adiamento. Afinal, eles devem ter convicção estratégica no partido, e não apenas ficar nele caso vejam suas posições estratégicas - afirma Vigilante.

Sete chapas estão inscritas para o PED-DF, mas a maior disputa deverá acontecer entre Raimundo Júnior, vice-presidente regional, e Chico Machado, apoiado pelos esquerdistas. Depois de seu nome ter aparecido na lista de pessoas que sacaram dinheiro das contas do publicitário Marcos Valério, acusado de ser operador do mensalão, no na semana passada Raimundo Júnior começou a costurar uma chapa única, considerando inclusive abrir mão de sua candidatura

- Eles só ganham se houver uma operação milagre - disse, confiante, Chico Machado, classificando o possível acordo entre as duas alas como ''ficção''.

Publicamente decepcionado com os rumos que o PT tem tomado, o senador Cristovam Buarque também é contra a chapa única pois evitaria os debates, em sua avaliação. No entanto, ele nega que esteja no movimento que pretende deixar o partido. Cristovam retornou da Europa na sexta-feira passada, e só agora retomou as discussões internas.

- Não consigo amadurecer a idéia de deixar o partido nem de permanecer nele - disse o senador. Ele acredita que em 2006 o PT não terá mais o peso que costumeiramente tinha na opção dos eleitores. ''Será cada um por si'', avalia o senador, contando sentir-se desconfortável com sua situação no partido.