Título: Muita expectativa e pouca novidade
Autor: Karla Correia e Paulo de Tarso Lyra
Fonte: Jornal do Brasil, 03/08/2005, País, p. A2

O Brasil parou na expectativa de que um dos dois ''duelantes'', ou ambos, trouxessem a público dados concretos que revelassem facetas ainda mais assustadoras sobre a crise que assola o país. Mas nem José Dirceu nem Roberto Jefferson produziram nada além do convencional: o ex-ministro fez uma colagem do discurso fragmentado que vem proferindo: não cometeu nenhum ato ilícito, nada sabia sobre os empréstimos de Marcos Valério para a base governista e agora comunga com a preocupação dos colegas do PT sobre os ''erros'' que foram cometidos pela direção do partido. Acredite quem quiser. Jefferson chegou a causar algum frisson quando, no início da sua intervenção, ironizou o claro paradoxo da fala do oponente: uma pessoa com o poder de Dirceu nada saber sobre as maquinações ligadas a acordos políticos costurados entre o PT - cuja direção era de sua confiança - regados a empréstimos operados por Marcos Valério, com quem o ex-ministro -- de acordo com o seu depoimento - teria relações apenas superficiais.

Pelo tom, como sempre teatral e seguro, com o qual Jefferson começou a sua fala, a expectativa era de que viria a pólvora pura há dias prometidas pelo relator da CPI, deputado Osmar Serraglio. Mas, a partir daí, o deputado foi perdendo gás e se limitou a repetir todos os detalhes da sua primeira e explosiva intervenção na Câmara sobre o mensalão.

Dirceu se aproveitou para antepor palavra contra palavra. Disse, por várias vezes, que Jefferson mentia em suas informações. Mostrava estar confiante em que dificilmente, apesar de indícios e evidências, surgirão provas concretas de sua participação no esquema do mensalão. E foi em frente. Alardeando inocência disse que não vai renunciar, mesmo correndo o risco de ser cassado.

A tática de Dirceu, como chegou a ser especulado, não incluiu qualquer recriminação ou queixa contra o presidente Lula ou outra figura do núcleo dirigente do governo. Muito pelo contrário. A culpa dos ''erros'' ficaria mesmo na conta exclusiva dos ex-dirigentes do PT. Uma frase de Lula, na véspera, já havia antecipado a argumentação usada pelo amigo: ''Delúbio quebrou o PT''.

Jefferson, numa manobra de última hora, se referiu a uma viagem a Portugal, supostamente autorizada por Dirceu, para que emissários do PT e do PTB tratassem com a Portugal Telecom a liberação de recursos para acertar as contas entre os dois partidos. A resposta de Dirceu foi no mesmo tom: mentira pura, resumiu, em tom indignado. Essa informação foi, na realidade, a única novidade do duelo, como realçou Chico Alencar, do PT do Rio.

Dirceu parecia surpreso e indignado ao denunciar que Jefferson - o aliado que antes da crise merecia um cheque em branco de Lula - se dedicava a ''capturar'' um número maior de cargos no governo.

Verdade ou mentira, o contratempo seria evitado se, logo no início do governo, fossem levados em conta os alertas de deputados da bancada petista do Rio sobre a conduta política do novo aliado.