Título: Risos, suspiros e muita ironia
Autor: Karla Correia e Paulo de Tarso Lyra
Fonte: Jornal do Brasil, 03/08/2005, País, p. A2

Roberto Jefferson chegou mais cedo, gravata rosa, terno cinza. Sorridente, entrou no Conselho de Ética às 14h52 e cumprimentou, pausadamente, quase todos os deputados do Conselho. Sentou-se na primeira fila, próximo aos seus advogados. Às 15h08, Dirceu chega ao plenário do Conselho, terno azul marinho, gravata azul. Senta-se à mesa, retribui os sinais de carinho, levantando as mãos unidas, em formato de concha, num gesto de ''força''. Enquanto o presidente do Conselho de Ética, deputado Ricardo Izar (PTB-SP), lia nota repudiando insinuações de acordo, um impaciente Dirceu apoiava-se, alternadamente, nos cotovelos. Suspirou por duas vezes, em curto espaço de tempo, tentando dissimular a tensão que vivia.

Mesmo assim, iniciou o discurso com voz firme. Levantou a biografia, a história, para justificar que não renunciaria. Uma assistência silenciosa ouvia o ex-homem forte do governo Lula, hoje deputado ameaçado de perda de mandato. Nos corredores do Congresso, telões instalados estrategicamente atraíam curiosos e espectadores, interessados em assistir as justificativas de Dirceu para as acusações feitas por Jefferson.

O petista não demorou a centrar fogo em seu desafeto político. Repetiu à exaustão o verbo ''repelir'', conjugado na primeira pessoa do singular, eu repilo. Desta forma, rebateu todas as acusações do petebista. E resolveu devolver ao adversário a alcunha de corrupto que o petebista tentava lhe imputar.

Os parlamentares não contiveram as risadas em alguns momentos. No primeiro, quando Dirceu reagiu à provocação de Jefferson: ''Parabenizo vossa senhoria por se apresentar hoje despido da impáfia que exibia enquanto chefe da Casa Civil''. O deputado retrucou:

- Nunca fui arrogante - disse o ex-ministro provocando gargalhadas. Em especial, a da deputada Zulaiê Cobra (PSDB-SP) que chegou a gritar: ''Dirceu nasceu arrogante''.

Dirceu também vestiu as fantasias de um clandestino bem-comportado. Afirmou que, durante o período em que esteve exilado, em Cruzeiro do Oeste, no Paraná e em outras cidades, jamais praticou qualquer ato desabonador. O perfil humilde também apareceu, ao lembrar que, em 1980, fez concurso para datilógrafo na Assembléia Legislativa de São Paulo e que entrou no PT como militante de base. No governo, repeliu qualquer insinuação de autoritarismo.

- Sou republicano e obediente à hierarquia. Não me considero especial ou acima de qualquer ministro. Sei do papel que joguei na construção do PT, na campanha do presidencial e na vitória do presidente Lula - admitiu.

Roberto Jefferson desfilou sua tradicional ironia. Repetiu o tom teatral e ressaltou:

- Tenho certeza de que foi o Dirceu quem treinou o Silvinho, o Delúbio e o Marcos Valério em seus depoimentos à CPI dos Correios.