Título: Lula reage culpando a imprensa
Autor: Paulo de Tarso Lyra
Fonte: Jornal do Brasil, 03/08/2005, País, p. A4

O depoimento do deputado José Dirceu (PT-SP) não foi capaz de sobressaltar o governo Lula ontem. À noite, depois de acompanharem com máxima atenção o pronunciamento do petista ao Conselho de Ética, ministros e auxiliares do presidente Luiz Inácio Lula da Silva respiravam aliviados. A avaliação era de que, até então, o ex-chefe da Casa Civil havia dado um ''show de segurança''.

- José Dirceu foi muito seguro nas suas colocações - afirmou o ministro da Coordenação Política, Jaques Wagner.

A maior preocupação no Planalto era saber como Dirceu trataria o governo. Ao fim e ao cabo, saiu tudo como o governo esperava: Dirceu assumiu seu trabalho como operador político, suas ações como gerente do governo e não envolveu o presidente Lula. De acordo com um auxiliar do presidente, Dirceu se comportou ''tão bem que poderia ter se antecipado aos fatos'' evitando a apreensão no governo ao sabor das denúncias reveladas pela CPI dos Correios.

Nos dias que antecederam o depoimento, os movimentos do deputado do PT foram monitorados por ministros ligados a Lula, como Jaques Wagner e o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos. Wagner manteve contatos diários por telefone com Dirceu. Bastos, por sua vez, recebeu o ex-ministro em um jantar, na última semana.

Ontem, Lula e ministros do governo passaram o dia empenhados em mostrar pouca preocupação com o depoimento do deputado petista. À tarde, contudo, na cerimônia de instalação do Conselho Nacional da Juventude, Lula não deixou de mencionar a crise. Minutos antes da solenidade, questionado por jornalistas se a crise chegaria até ele, o presidente respondeu, sorrindo:

- Depende de vocês.

Ao discursar na cerimônia de instalação do Conselho, o presidente voltou a falar do assunto. Em tom de lamentação, depois de chamar Dirceu de companheiro, o presidente disse que o depoimento do deputado no Conselho de Ética teria muito mais espaço na imprensa do que a solenidade.

- Um ato como esse possivelmente não terá destaque quase nenhum por causa do Conselho de Ética. O companheiro Dirceu está lá e, como minha mãe dizia, coisa ruim sempre tem privilégio sobre coisa boa no noticiário.

Ainda no discurso, Lula disse que hoje, na sociedade brasileira, ''há interesses que se contrapõe à democratização do aparelho público''. Em seguida, acrescentou: sua gestão jamais abrigou privilégios e interesses particulares.

- Trabalhamos pela justa destinação dos recursos públicos - acrescentou.