Título: PTB pede cassação de Dirceu e Mabel
Autor: Renata Moura
Fonte: Jornal do Brasil, 03/08/2005, País, p. A5

O deputado Roberto Jefferson, por meio do PTB, cumpriu ontem sua promessa. Minutos antes de iniciar o depoimento do deputado José Dirceu (PT-SP) no Conselho de Ética da Câmara, o presidente do partido, Flávio Martinez, deu entrada nos pedidos de cassação por quebra de decoro parlamentar de Dirceu e dos deputados Sandro Mabel (PL-GO) e Valdemar Costa Neto (PL-SP). A surpresa no movimento do PTB não ficou por conta do nomes apresentados, mas nos nomes ausentes da representação. Há dez dias, o deputado Roberto Jefferson já havia anunciado a intenção do partido. Na ocasião, tinha na alça de mira outros parlamentares: José Janene (PP-PR), Pedro Corrêa (PP-PE), Pedro Henry (PP-MT) e Carlos Rodrigues (PL-RJ).

- Pedro Henry e Janene ficaram de fora porque não houve tempo suficiente para a equipe jurídica preparar os requerimentos, mas até sexta-feria traremos também o nome deles - afirmou Martinez.

Pelo regimento da Câmara, cabe ao presidente da Casa, Severino Cavalcanti (PP-PE), aceitar ou não a representação do PTB. Até sair a decisão de Severino, os deputados podem renunciar para evitar a abertura do processo de cassação.

Severino comentou que precisará de tempo para avaliar a documentação. Ele se recupera de uma pneumonia, e afirmou que doença pode comprometer a avaliação dos requerimentos.

Em seu depoimento ao Conselho de Ética, Dirceu avisou que não vai renunciar. Em nota divulgada ontem à tarde, o deputado Sandro Mabel, líder do PL na Câmara, negou as denúncias de envolvimento com o mensalão, mas não descartou a possibilidade de renunciar. Trilharia o mesmo caminho de Valdemar Costa Neto, que renunciou ao mandato anteontem.

Segundo o presidente do PTB, o partido não desistiu de entrar com novas representações, inclusive contra parlamentares do PT, caso seja necessário. Martinez não detalhou quem são os prováveis alvos das futuras representações do partido, mas descartou temporariamente a indicação de Carlos Rodrigues, porque ainda não havia encontrado uma linha jurídica que justificasse a cassação do parlamentar.

- Temos de ser responsáveis. Uma coisa é dinheiro do mensalão, outra é coisa é financiamento de campanha - afirmou.

Ontem, a CPI dos Correios aprovou a convocação do ex-ministro José Dirceu (Casa Civil) e do ex-diretor de Marketing do Banco do Brasil Henrique Pizzolato. Por falta de acordo e temor do impacto da decisão sobre a economia do país, a discussão sobre a quebra do sigilo bancário de dez fundos de pensão foi adiada para esta quinta-feira. Os petistas concordaram em convocar Dirceu, o que propiciou uma votação simbólica, ou seja, sem declaração individual de voto. Ainda não há data marcada para o depoimento.

Dirceu foi arrastado para o centro da crise semana passada com o depoimento da mulher de Marcos Valério de Souza, Renilda Santiago, à CPI dos Correios. Ela afirmou que ex-ministro se reuniu com a diretoria do Banco Rural e do BMG para tratar do pagamento de empréstimos tomados pelo publicitário e repassados ao PT.