Título: Lamas liga saques à campanha de Lula
Autor: Hugo Marques e Sergio Pardellas
Fonte: Jornal do Brasil, 03/08/2005, País, p. A8

O depoimento na Polícia Federal do ex-tesoureiro do PL, Jacinto Lamas, vinculou os esquemas de caixa dois operado por Marcos Valério Fernandes de Souza, acusado de ser o principal operador do mensalão, à campanha que elegeu o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Segundo Lamas, o deputado federal Valdemar Costa Neto (PL-SP), que renunciou segunda-feira ao mandato, disse-lhe que o dinheiro repassado por Valério era parte de ¿um acerto de campanha¿ que teria fechado com o ex-tesoureiro nacional do PT Delúbio Soares, que ele chama de ¿dr. Delúbio¿, ¿na formalização da aliança da chapa formada para disputar a Presidência da República¿. Lamas confirmou ter feito saques no Banco Rural e transportado dinheiro a pedido de Costa Neto.

¿ Pelo acordo firmado, o dr. Delúbio Soares ficou de cobrir gastos realizados pelo deputado Valdemar Costa Neto na campanha eleitoral de 2002. O deputado federal Valdemar havia feito compromissos com pessoas durante a campanha de 2002, e desta forma precisava de recursos para custear tais despesas ¿ afirmou Lamas.

Segundo o tesoureiro, apenas Costa Neto poderia citar quem seriam essas pessoas que iriam receber dinheiro do PT.

Levantamento feito pela CPI dos Correios, indica que Lamas sacou R$ 1,25 milhão. Conforme o depoimento, o dinheiro foi entregue na casa em que Costa Neto vive em Brasília, a residência oficial do partido localizada no Lago Sul. Lamas também disse que, além do Rural, pegava dinheiro para Costa Neto na sede da agência SMPB e em hotéis em Brasília.

Costa Neto, que será ouvido pela PF, renunciou segunda-feira ao mandato de deputado federal. Ele assumiu publicamente ter recebido os recursos, com a ressalva de que fariam parte de um acordo na aliança PT-PL, na qual os petistas teriam arcado com o compromisso de fazer face às despesas eleitorais do PL.

Uma lista elaborada por Marcos Valério e entregue à PF, à Procuradoria Geral da República e à CPI aponta Costa Neto como destinatário de R$ 10,8 milhões. Além de Lamas, a lista aponta como intermediária do dinheiro, entre a conta de Valério e o presidente do PL, a empresa Guaranhuns Empreendimentos, Intermediações e Participações Ltda. e a corretora Bônus-Banval.

Lamas seguiu a mesma linha do depoimento prestado por João Cláudio Genu, assessor do deputado José Janene (PP-PR). Ambos disseram que cumpriram ordens de um superior e desconhecem o destino dado ao dinheiro. A tese fica mais frágil no caso de Lamas, segundo avaliação da Polícia Federal. Na condição de tesoureiro do partido, ele deveria ter mais informações sobre o destino dos saques. O nome Janene também passou a integrar a lista de depoimentos da investigação que apura o pagamento do mensalão. Também prestou depoimento à PF ontem Eliane Alves Lopes, funcionária da SMPB há 22 anos, quatro dos quais em Brasília. Acompanhada pelo advogado Paulo Sérgio de Abreu, que defende Valério, ela também seguiu a linha de que só cumpria ordens: sacava o dinheiro e entregava ao chefe na SMPB ou em algum hotel de Brasília. Depois dos depoimentos de intermediários dos saques, a PF vai partir para a investigação da origem do dinheiro. Uma das hipóteses é que os recursos tenham sido desviados de estatais. Os policiais também vão exigir que os beneficiados com supostos empréstimos para gastos com campanha ¿ versão defendida por Valério, que nega a existência do mensalão ¿ apresentem os comprovantes de gastos. Empresas e pessoas que teriam recibo o dinheiro dos partidos devem ser ouvidas.

Também incluso na lista de beneficiados pelo dinheiro de Valério, o deputado estadual José Nobre Guimarães (PT-CE), irmão do ex-presidente do PT José Genoino, confirmou ontem a uma colega deputada, a também petista Íris Tavares, o recebimento dos R$ 250 mil. Segundo a deputada, Guimarães reconheceu ter pego o dinheiro, mas não explicou como isso aconteceu nem qual foi o destino dos recursos.