Título: Assessores de três ministros na lista
Autor: Hugo Marques e Sergio Pardellas
Fonte: Jornal do Brasil, 03/08/2005, País, p. A8

A lista oficial do mensalão, apresentada pela diretora financeira da SMPB, Simone Vasconcelos, à Polícia Federal (PF), na segunda-feira, tem detalhes sobre os beneficiários de saques de R$ 55,8 milhões distribuídos por Marcos Valério. A lista está nas mãos do Ministério Público, Polícia Federal e CPI dos Correios. Uma das novidades são os saques de R$ 200 mil atribuídos ao então presidente da Câmara, João Paulo Cunha (SP). A quebra de sigilo mostrou que a mulher dele, Márcia Regina Milanésio Cunha, tinha recolhido R$ 50 mil na sede do Banco Rural, em Brasília. Ontem, em novo depoimento espontâneo, na Procuradoria-Geral da República, Marcos Valério entregou ¿vários¿ novos documentos, com lista suplementar de sacadores, o seu passaporte, e reforçou o pedido de ser tratado como ¿investigado colaborador¿. Ele esteve reunido das 14h30 às 21h com o procurador-geral da República.

Segundo a lista da diretora financeira, o então tesoureiro do PL, Jacinto Lamas, é um dos recordistas, com 19 saques no total de R$ 10,8 milhões. Ele operava para o deputado Valdemar Costa Neto, que renunciou esta semana. O publicitário do PT, Duda Mendonça, aparece como um dos beneficiários ao lado de sua sócia e do policial David Rodrigues Alves. O grupo de Mendonça teria embolsado R$ 15,5 milhões. No início da noite de ontem, o publicitário divulgou uma nota em que afirma estar indignado com as declarações de Simone Vasconcelos. Ele disse ainda que não autorizou o recebimento e não recebeu a importância mencionada por ela e pretende processá-la.

A lista atinge também o ex-ministro da Saúde, Humberto Costa. O nome de Eristela Feitosa, então sua assessora, aparece ao lado de saques de R$ 300 mil.

O deputado Romeu Queiroz (PTB-MG) sacou R$ 350 mil. No entanto, informou que seu assessor José Hertz pegou dois pacotes ¿lacrados¿ de dinheiro nas empresas de Valério e entregou ao tesoureiro do partido Emerson Palmieri, após encontro com o então ministro dos Transportes, Anderson Adauto. Palmieri, sacou R$ 2,46 milhões. O deputado Paulo Rocha (PT-PA) recebeu oito mensalidades, num total de R$ 920 mil. O secretário-executivo do Ministério da Integração, Márcio Lacerda, também aparece na lista com saques de R$ 457 mil em 2003. Um dos atribuídos a Lacerda é de 17 de junho de 2003, no valor de R$ 157 mil. Oito dias depois de ter se encontrado com Valério, segundo registrou sua ex-secretária Fernanda Karina. O nome de Lacerda figura na lista de doadores do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) à campanha presidencial de Ciro Gomes. Contribuiu com R$ 550 mil. O então assessor José Luiz Alves ¿ que trabalhava com o ex-ministro dos Transportes, Anderson Adauto (PL) ¿ embolsou um total de R$ 1 milhão.

Roberto Costa Pinho, que assessorava o ministro da Cultura, Gilberto Gil, fez sete saques de R$ 450 mil. O deputado Carlos Rodrigues (PL-RJ) ¿ que perdeu o título de ¿bispo¿ da Igreja Universal após se envolver em esquemas irregulares ¿ embolsou R$ 400 mil.

A lista aponta o então deputado José Carlos Martinez (PTB-PR) ¿ morto em acidente de avião ¿ ao lado de saques que somam R$ 1 milhão, alguns feitos pelo seu motorista Jair dos Santos. O deputado José Nobre Guimarães (PT-CE) ¿ irmão de José Genoino ¿ teria sacado R$ 250 mil em 2003. Marcelino Pies, que seria tesoureiro do diretório nacional do PT no Rio Grande do Sul, teria sacado R$ 1,2 milhão.

O deputado João Magno (PT-MG) embolsou R$ 350 mil. O ex-líder do PT na Câmara, deputado Professor Luizinho (SP) está do lado de um saque de R$ 20 mil. O ex-presidente da Casa da Moeda, Manoel Severino, aparece ao lado do ex-diretor do Banco do Brasil Henrique Pizzolato. Teriam sacado R$ 2,67 milhões. O PT Nacional foi beneficiado com 19 saques das empresas de Marcos Valério, no total de R$ 4,93 milhões. Na lista de intermediários dos saques estão o ex-tesoureiro Delúbio Soares e o ex-secretário-geral Sílvio Pereira. O assessor parlamentar João Cláudio de Carvalho Genu, que era chefe de gabinete do deputado José Janene (PP-PR), recebeu sete mensalidades que juntas somam R$ 4,1 milhões.

A diretora financeira confirmou que teve de transportar dinheiro até em carro-forte para distribuir em Brasília. A gerente tinha dois celulares para receber telefonemas dos destinatários do dinheiro. Quando solicitou carro-forte, ela colocou dentro R$ 650 mil em dinheiro vivo e levou para o prédio da Confederação Nacional dos Transportes, onde funcionava a SMPB. O dinheiro foi distribuído na entrada do prédio da CNT, em Brasília.

Ao fim do longo depoimento, ontem Marcos Valério disse que está disposto a colaborar com as investigações, ¿porque é preciso esclarecer todos os fatos o mais rápido possível, para que o país não fique paralisado, e porque acredito nas instituições¿. Ressaltou ainda que não acredita que o presidente Lula soubesse de seus ¿empréstimos¿ ao PT.