Título: Violência preocupa
Autor: Sheila Machado
Fonte: Jornal do Brasil, 03/08/2005, Internacional, p. A10
Além do atraso do Comitê Eleitoral Provisório (CEP) em organizar as eleições gerais, a insegurança preocupa no Haiti. Lembrando que seqüestros criminais e políticos atingiram níveis recordes nos últimos meses, o International Crisis Group ressalta que a segurança deve ser suficiente para permitir o completo processo eleitoral.
Desde setembro ocorreram quase 800 assassinatos, relacionados a batalhas de gangues, tráfico de drogas e violência política. Os habitantes dos bairros mais pobres de Porto Príncipe - onde está 1/3 dos eleitores - não se sentem seguros para ir às urnas, temem represálias. Assim, o ICG recomenda que militares da Minustah devem manter a tática, recentemente mais ativa, de caçar as gangues de jovens armados dentro das favelas de Porto Príncipe.
- As ações dos soldados de paz brasileiros em Cité Soleil e Bel-Air não é fácil, mas é necessária. A Minustah precisa mostrar músculos - afirma o diretor do ICG, Alain Deletroz.
''Isso requer mais tropas, como aprovou o Conselho de Segurança em junho. O tempo corre e Estados Unidos, França e Canadá deviam oferecer forças móveis para apoiar a Minustah e expandir a polícia civil da missão de estabilização (CIVPOL)'', sugere o relatório sobre o Haiti.
A missão de estabilização também deveria receber aval da ONU para examinar a polícia nacional haitiana, ''cujos maus elementos maculam a imagem da Minustah no país''.
- Muitos oficiais da polícia são comandantes de operações de tráfico de drogas, corrupção. Agora é uma boa hora para tirá-los da corporação, para que sejam processados - defende Deletroz.
Segundo o especialista, esta interferência da comunidade internacional na força de segurança haitiana não seria mais um motivo de instabilidade no país:
- Dentro da polícia mesmo tem muita gente que quer se livrar destes homens. É a chance para que o povo volte a ter uma boa imagem da organização.
Também é necessário o desarmamento, a desmobilização e a reintegração civil do Exército haitiano - dissolvido nos anos 90 por Jean-Bertrand Aristide - e das gangues armadas em Porto Príncipe. Várias delas são usadas por lideranças políticas para criar um ambiente hostil à presença internacional. (S.M.)