Título: Percussão nas veias
Autor: João Bernardo Caldeira
Fonte: Jornal do Brasil, 03/08/2005, Caderno B, p. B1

As raízes de infância dos irmãos Naná e Erasto estão estampadas em suas carreiras musicais. Criados no bairro pobre de Sítio Novo, na Recife dos anos 40, ambos carregam no gene a vocação para a arte, herança do pai, tocador de manola, espécie de violão. As trajetórias, no entanto, foram bem distintas. Talentoso desde menino, Naná Vasconcelos foi trabalhar no exterior, tornando-se um percussionista respeitado também mundo afora. Erasto, além de demorar a mostrar sua vocação na percussão, teve seu desenvolvimento como músico prejudicado por uma crise depressiva, ainda no fim dos anos 60. Aos 20 e poucos anos, depois de formar algumas bandas no Rio, foi atrás do irmão em Nova York. Abalado por um projeto que não vingou, foi internado. ¿ Fiquei numa clínica nos Estados Unidos e quando voltei para Pernambuco fui para outra, a pior possível. Foi cruel ¿ lembra Erasto.

Hoje, tantos anos depois, as coisas vão bem, obrigado, para ambos (que deram entrevistas em separado, por telefone). Moram em Recife, já não têm necessidade de sair pelo mundo. A carreira de Naná, 60 anos, como de costume, vai de vento em popa: ele acaba de voltar de um concerto na Lapônia e lança o disco Chegada, com shows no Teatro Rival de 11 a 13 de agosto. Em setembro, se apresenta na Central do Brasil, dia 12, e na quadra da Mangueira, dia 14, no evento Polônia carioca.

Enquanto isso, Erasto prepara o show que fará na capital pernambucana, também no dia 12 de agosto, data de seu aniversário de 58 anos. Apresentará o repertório de Jornal da palmeira, seu primeiro CD. Seguiu o caminho aberto pelo irmão, que consolidou a idéia de que percussionista também pode ser autor (leia ao lado a crítica dos discos).

Nos últimos anos, Erasto se aproximou de nomes do cenário musical de Pernambuco, como Mombojó e Mundo Livre S/A. E foi Fábio Trummer, da banda Eddie, quem resolveu produzir o CD de estréia.

Naná mostra orgulho de irmão coruja:

¿ Este disco, na realidade, é um livro. Deveria ser encenado como um espetáculo. As melodias de Erasto são incríveis. Ele é de uma imaginação espetacular e sempre teve a música dentro de si.

O irmão mais novo fica feliz com os elogios. E acredita que sua inspiração vem do passado:

¿ Escrevi baseado na minha infância. Meu pai tocava manola, não tinha como ser outra coisa senão músico.

Jornal da palmeira é um dos sete musicais que Erasto escreveu. Seu sonho é que sejam editados em livro, para que fiquem à disposição dos alunos da rede pública. De fôlego renovado, o cantor está cheio de planos:

¿ O primeiro demorou para sair, porque eu tinha medo de levar um fora. Gosto muito das coisas que componho para ser desestimulado. E dou graças a Deus que agora tenha saído em CD. Feliz é aquele que tem uma história para contar.