Título: Palocci veta controle cambial
Autor: Sabrina Lorenzi
Fonte: Jornal do Brasil, 03/08/2005, Economia & Negócios, p. A21

O ministro da Fazenda, Antonio Palocci, descartou ontem o controle de capitais de curto prazo, hipótese defendida pelo deputado Delfim Netto (PP-SP) em função da crescente valorização do real, que prejudicaria os exportadores.

- A maior atratividade de capitais estrangeiros se dá pelo comércio - justificou Palocci, que participou ontem, no Rio de Janeiro, da 4ª Reunião do Grupo Brasil-Estados Unidos, juntamente com o secretário do Tesouro dos Estados Unidos, John Snow, e empresários.

O ministro defendeu o regime de câmbio flutuante, lembrando que o déficit em conta corrente no Brasil esteve perto de 5% do Produto Interno Bruto (PIB) e se transformou em superávit - no ano, o acumulado é de US$ 9,6 bi.

Na mesma linha, Snow declarou que o país está conseguindo reduzir a relação dívida/PIB - importante indicador de vulnerabilidade externa -, conter a inflação e enfrentar turbulências de forma cada vez mais controlada. Sobre a crise política, disse apenas que ''o importante são as boas políticas''.

Em um dos seus poucos pronunciamentos sobre a crise política, Antonio Palocci defendeu uma reforma na legislação eleitoral.

- O Brasil avançou, mas as leis que regem o processo eleitoral não acompanharam - afirmou, depois de mandar recados à imprensa: ''Não costumo fazer comentários políticos. Tomo banho gelado dos jornais quando expresso minha opinião''.

O ministro se mostrou otimista em relação ao futuro da estrutura partidária do país.

- Creio que o Brasil terá criatividade e condições para produzir a política eleitoral. As instituições estão pedindo reforma política - opinou.

O secretário do Tesouro dos EUA, por sua vez, elogiou o Brasil novamente, dizendo que o país tem demonstrado liderança e seriedade na condução da política econômica.

Apesar dos resultados da política econômica, entretanto, Palocci e Snow consideram que é preciso haver cuidado com a vulnerabilidade externa. Palocci reiterou declarações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao afirmar que ''a economia brasileira é vulnerável, assim como todas as economias do mundo''. Mas ressalvou que o país está bem mais preparado hoje para enfrentar turbulências.

- Acho que a afirmação do presidente Lula é verdadeira. Aliás, eu queria dizer que não conheço nenhuma economia do mundo que não tenha vulnerabilidade - disse.

John Snow reforçou a necessidade de atenção com a vulnerabilidade da economia brasileira.

- Temos que estar sempre vigilantes, atentos. Todos sabemos que os estresses podem ocorrer e o arcabouço mais amplo de políticas é a melhor estrutura para lidar com esses problemas que acontecem em uma economia aberta - alertou.

Livre do controle de capitais, o mercado de câmbio registrou mais um dia de forte valorização do real. O dólar comercial fechou ontem em queda de 1,13%, cotado a R$ 2,342. A Bolsa de Valores de São Paulo teve mais um dia positivo e subiu 1,87%, fechando a 26.788 pontos e volume financeiro de R$ 1,412 bilhão.