Título: Depois das malas vem a bolsa
Autor: Mariana Santos
Fonte: Jornal do Brasil, 04/08/2005, Brasília, p. D1

O bancário aposentado Sinval de Melo Monteiro percorreu os 700 km que separam Belo Horizonte (MG) de Brasília de ônibus, com R$ 100 mil em uma bolsa de viagem. A pedido do presidente do PT-DF, Wilmar Lacerda, com quem trabalhava, Sinval foi à capital mineira receber a quantia - segundo ele destinada a pagar dívidas do partido - em um endereço repassado pelo tesoureiro do diretório nacional, Delúbio Soares. Em um prédio suntuoso no centro da cidade, o petista pegou das mãos de uma mulher, cujo nome afirma não se lembrar, um cheque nominal porém endossado, e o trocou por dinheiro vivo em uma agência do Banco Rural. Militante do PT há mais de 20 anos, Sinval relatou a viagem a Minas ontem ao JB e repetiu a versão de Wilmar, que o dinheiro fazia parte do repasse nacional para o PT-DF. O presidente regional disse terça-feira à Comissão de Averiguação que ao todo recebeu R$ 381 mil da direção nacional para saldar dívidas. Menos de um mês depois da viagem de Sinval, um outro petista, chamado Carlão, esteve novamente em solo mineiro para receber outros R$ 35 mil. Sinval contou que foi a BH de avião e garante que voltou de ônibus por considerar ''mais seguro''. No entanto, sabe-se que escaparia da inspeção no aeroporto. Segundo ele, as passagens foram pagas pelo diretório regional.

- Na época, não tínhamos como desconfiar de nada, nem imaginávamos de onde vinha aquele dinheiro - disse o petista, que foi chefe de gabinete de Wilmar na Administração de Planaltina durante a gestão Cristovam Buarque. Sinval assumiu a administração durante os nove últimos meses do governo, quando Wilmar saiu para se candidatar a distrital em 98. Lotado no gabinete da deputada Érika Kokay durante todo o ano de 2003, conta, prestou serviço no diretório regional entre julho e dezembro. Ele afirma que hoje vive apenas com o salário da aposentadoria da Caixa Econômica Federal.

De acordo com Sinval, ele passou menos de 24 horas em BH. Ao chegar em Brasília, repassou o dinheiro à responsável pelos pagamentos do partido, chamada Heloísa. Sobre a empresa onde buscou o cheque, lembra apenas que o nome era composto por letras - ''pode ser SMP&B sim''. Também afirma não se recordar do nome que vinha no cheque.

- Estávamos mais preocupados com a dívida. Vi a angústia de Wilmar para pagá-las logo, algumas estavam sendo protestadas - disse. (MS)