Título: Desencontro de contas intriga o PT
Autor: Mariana Santos
Fonte: Jornal do Brasil, 04/08/2005, Brasília, p. D1

A Comissão de Averiguação instalada pelo PT-DF para analisar as versões do presidente regional, Wilmar Lacerda, e do vice Raimundo Júnior, sobre os saques realizados das contas do publicitário Marcos Valério, acusado de ser o operador do mensalão, já trabalha com a possibilidade de sugerir ao final do relatório a criação de um grupo que investigue a fundo os repasses feitos pelo PT nacional ao diretório regional. As contas apresentadas por Wilmar e as declarações da diretora financeira da SMP&B, Simone Vasconcelos, ainda não batem. Enquanto Simone afirma que Marcos Valério contribuiu com R$ 605 mil, o presidente regional garante que o partido no DF recebeu só R$ 381 mil.

Antônio Carlos de Andrade, o Toninho, integrante da comissão, afirma que a diferença nos números ainda intriga. Em depoimento na última terça-feira, Wilmar Lacerda mostrou notas e recibos comprovando que a aplicação de R$ 381 mil - destes, R$ 50 mil foram sacados em uma agência do Banco Rural de Brasília, outros R$ 135 mil recebidos em Belo Horizonte (MG) e o restante foi repasse em cash do diretório regional. Segundo Toninho, a expectativa era de que o depoimento de Raimundo Júnior, realizado na noite de ontem, pudesse esclarecer os R$ 224 mil a mais citados por Simone Vasconcelos. Mas pouco antes de seu depoimento, Júnior afirmou ao JB que o único dinheiro que sacou das contas do publicitário foram os R$ 100 mil apontados na quebra de sigilo bancário de Valério. E que o dinheiro nada tinha a ver com o diretório regional, pois foram direto para as mãos do ex-tesoureiro Delúbio Soares.

Em depoimento à Polícia Federal, no entanto, Simone citou Júnior como receptor de R$ 370 mil, em três parcelas. Mas o atual candidato à presidência petista pela Articulação afirma que este valor está errado. Ele disse ainda que, de posse de uma cópia das declarações da diretora financeira, rebateria alguns pontos durante seu depoimento na sede regional do PT. Dentre eles, a afirmação de que teria se encontrado com Simone em três ocasiões para entregar dinheiro.

- Estou estudando detalhadamente o Estatuto do PT para ver que tipo de medida se aplica neste caso. Se é a abertura de uma comissão de ética, ou de investigação. Afinal, mantida esta lacuna em valores, não tenho dúvidas dessa necessidade - afirmou Toninho, ressaltando que os novos valores causaram surpresa à comissão. O relatório fica pronto até o dia 17.

Na época em que explicou os saques à executiva, Wilmar chegou a dizer que outros repasses ''não-institucionais'' haviam sido feitos, mas não detalhou valores nem como o dinheiro chegou à regional. Disse que faria um levantamento, concluído no mesmo dia em que a lista de Simone foi divulgada.