Título: Jefferson: acordo para evitar cassação
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 05/08/2005, País, p. A5

Em seu quarto depoimento ao Congresso sobre o suposto mensalão, o deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) anunciou que o seu partido busca junto ao PT uma forma de legalizar o repasse de R$ 4 milhões que não foram contabilizados. Com isso, ele pretende evitar a cassação do mandato. As negociações estariam sendo feitas, segundo Jefferson, entre o ministro do Turismo, Walfrido dos Mares Guia, e o presidente do PT, Tarso Genro. Mares Guia negou as declarações de Jefferson. O recebimento de caixa 2 foi o único crime assumido publicamente pelo ex-presidente do PTB. O dinheiro a que Jefferson se refere seria a primeira parte dos R$ 20 milhões que, segundo ele, o PT iria repassar ao PTB como ajuda para pagar os gastos de campanha. Segundo ele, Valério entregou a verba em malas de rodinhas, a pedido do ex-tesoureiro petista Delúbio Soares.

Mais exaltado do em depoimentos que prestou anteriormente, Jefferson afirmou à CPI que o chamado núcleo duro do governo classifica os partidos aliados ''como burguesia corrupta, legendas prostitutas, que se aluga''.

Segundo o ex-presidente do PTB, o grupo, comandado pelo ex-ministro José Dirceu, nunca deixou que os partidos da base participassem do processo decisório do governo.

- Eles não nos convidaram para participar das decisões, pensar o governo. Não distribuíram o poder, alugaram as legendas.

Ainda sobre o dinheiro recebido do caixa dois do PT, Jefferson afirmou que não tem como devolver os R$ 4 milhões que ele diz ter recebido do publicitário Marcos Valério Fernandes de Souza.

- Eu distribuí, só não vou dizer como nem para quem.

Jefferson afirmou ainda que as pessoas que receberam estavam na esperança de que o PT iria legalizar os recursos

Roberto Jefferson fez questão de assinalar que considera o presidente Luiz Inácio Lula da Silva inocente em todos os casos de suposta irregularidade no governo, procurando corrigir declarações dadas na terça-feira no Conselho de Ética da Câmara.

- Se em algum momento fiz suspeitar do envolvimento do presidente Lula, quero pedir desculpas porque eu não fui claro - afirmou, se referindo a declarações feitas no Conselho de Ética em que deu a entender que o presidente teria participado de acordo para que a Portugal Telecom fizesse aporte de recursos nos caixas do PT e do PTB.

Em resposta a um questionamento, afirmou que daria um cheque em branco a Lula - ''retribuindo a confiança dele em mim''. Jefferson afirmou que Lula assumiu uma posição de chefe de Estado, tendo delegado a administração do governo a Dirceu.

O deputado, porém, manteve os ataques ao ex-ministro José Dirceu (PT-SP), que seria o ''chefe do esquema'', e adicionou ao rol dos que considera responsáveis pela corrupção no governo o ex-ministro da Secom Luiz Gushiken, hoje chefe do Núcleo de Assuntos Estratégicos. Mas procurou isentar Lula de qualquer outro envolvimento.

-Na questão do mensalão e de Furnas (suposto desvio de recursos para caixa 2) percebi nitidamente que ele se sentiu traído.

Jefferson falou ontem à CPI do Mensalão. O depoimento teve início às 10h34 e se estendeu durante todo o dia. Ele atacou ainda o Banco Rural, afirmando que não sabia por que o Banco Central não havia ainda feito intervenção na instituição, além de irritar deputadas e senadoras ao lembrar um episódio envolvendo o ex-presidente Itamar Franco com uma modelo no Carnaval do Rio.

O petebista criticou também de forma veemente o ex-deputado Valdemar Costa Neto (PL-SP), chamado de ''galo mutuca''. Acusado por Jefferson de integrar o esquema, o deputado renunciou na segunda-feira ao mandato de deputado.