Título: Acordo retarda investigação
Autor: Daniel Pereira e Paulo de Tarso Lyra
Fonte: Jornal do Brasil, 04/08/2005, País, p. A7

O presidente da CPI dos Correios, Delcidio Amaral (PT-MS), fechou ontem um acordo com líderes do PFL para adiar a votação da proposta de quebra de sigilo bancário de fundos de pensão ligados a empresas estatais. Em café da manhã que contou com a presença, entre outros, dos líderes da minoria e do PFL na Câmara, deputados José Carlos Aleluia (BA) e Rodrigo Maia (RJ), ficou decidido que, por hora, serão enviados apenas pedidos de informação à Comissão de Valores Mobiliários e à Secretária de Previdência Complementar. Se as respostas não forem satisfatórias, a oposição avisou que pressionará pela votação dos requerimentos de quebra de sigilo dos fundos de pensão.

Além de evitar, ou ao menos adiar, que outro tema espinhoso ganhe fôlego dentro da CPI, a decisão agradou ao ministro da Fazenda, Antonio Palocci Filho. O homem forte da economia havia alertado Delcidio sobre a possibilidade de repercussão negativa no mercado devido à exposição de negócios realizados por investidores.

Os pefelistas concordaram com a trégua, mas refutam qualquer interpretação de recuo. De acordo com Aleluia, não interessa ao PFL tumultuar o mercado. O líder da minoria declarou que, se as informações demorarem a chegar à CPI, será inevitável o pedido de quebra de sigilo bancário dos fundos de pensão.

O deputado Gustavo Fruet (PSDB-PR) considera terrorismo econômico afirmar que a quebra dos sigilos dos fundos de pensão causaria transtornos no mercado. Para Fruet, é fundamental investigar as razões que levaram os principais fundos de pensão do país a investir nos bancos BMG e Rural.

Ex-diretor do Banco do Brasil e ex-presidente do Conselho Administrativo da Previ, Henrique Pizzolato declarou que o fundo toma decisões sem consultar o conselho, atendendo a direitos políticos. Nesta semana, a CPI dos Correios aprovou a convocação de Pizzolato, mas o depoimento não foi marcada. Uma dezena de fundos de pensão está ameaçada de quebra de sigilo bancário. Além da Previ, figuram na lista Petros (dos funcionários da Petrobras) e Funcef (dos funcionários da Caixa Econômica Federal).

Nessa mesma sessão, marcada para votar requerimentos de consenso e ouvir o depoimento do policial David Rodrigues Alves, responsável por saques de recursos das contas de Marcos Valério, os integrantes da CPI travaram ainda uma das maiores discussões políticas desde que foram iniciados os trabalhos. Uma declaração da deputada Denise Frossard (PPS-RJ) de que haveria um acordo entre PSDB, PFL e PT para abafar as investigações gerou uma sucessão de embates políticos.

A deputada criticava o depoimento de David Rodrigues, a quem chamou de ''carregador de malas'', e a proposta de que uma sindicância fosse a Portugal investigar a viagem de Valério e do ex-tesoureiro do PTB Emerson Palmieri para supostamente negociar recursos para dívidas de campanha.

- O cheiro de pizza está fedendo na sociedade porque há um grande acordo entre PT, PSDB e PFL - afirmou.

O presidente da CPI criticou a declaração da deputada.

- Rejeito essas declarações. Não há acordão. Essa não é uma CPI chapa branca.

Parlamentares do PFL e PSDB criticaram a conduta da deputada. Depois da seqüência de discursos em tom elevado, Denise disse que, ouvidos os argumentos do presidente da CPI e de deputados do PFL e PSDB, estava ''mais tranqüila'' de que um acordo não seria fechado.

Mas a confusão continuou. A senadora Ideli Salvatti (PT-SC) criticou a conduta dos oposicionistas de convocarem a sócia de Duda Mendonça, publicitário responsável pela campanha eleitoral do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, para depor para à comissão sobre os R$ 15,5 milhões que teria recebido da SMPB e não chamar outras empresas de publicidade que trabalharam com candidatos do PSDB e PFL.

- A campanha do Serra não contabilizou a dívida total das despesas de campanha com essas empresas. Se a sócia do Duda Mendonça vai vir aqui, têm de vir também publicitários e tesoureiros de outras campanhas - acusou.