Título: Dólar freia indústria automotiva
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 05/08/2005, Economia & Negócios, p. A17
A queda do dólar já começa a afetar as vendas de veículos para o exterior, como alertava a Associação Nacional de Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea). Segundo e entidade, as exportações das montadoras somaram US$ 941 milhões em julho, uma redução de 7,8% sobre junho e a primeira queda desde abril. O presidente da associação, Rogelio Golfarb, afirmou ontem que o fortalecimento do real em relação ao dólar tem dificultado as vendas das empresas do setor ao exterior.
Após atingir R$ 4 em 2002, o dólar chegou a cair ontem abaixo de R$ 2,30. A Anfavea preparou um estudo para mostrar que a evolução do câmbio não acompanhou o aumento dos custos de matérias-primas como aço e plástico.
Mesmo assim, a meta de exportar US$ 8,9 bilhões em veículos este ano está próxima de ser cumprida. No ano, as vendas ao exterior já somaram US$ 6,12 bilhões.
Golfarb, porém, já havia avisado que o crescimento das exportações vinha nos últimos meses sendo sustentado de maneira artificial. Algumas montadoras fizeram desde 1999 um grande esforço para conquistar mercados e agora estão reduzindo margens de lucro ou cumprindo contratos mesmo com prejuízo, só para não perder clientes no exterior.
Entre junho e julho, a Anfavea também verificou queda de 6,6% nas vendas internas de veículos, para 138,7 mil unidades. A redução é creditada ao longo período de elevação da taxa básica de juros - atualmente em 19,75% ao ano -, que encarece o crédito, e considerada significativa pela associação, uma vez que o mês de julho tradicionalmente apresenta resultados favoráveis.
Já a produção de veículos caiu 6,3% em julho na comparação com junho, ou menos 14 mil veículos. O resultado representa um alerta vermelho para o desempenho da indústria, mas ainda é cedo para falar em crise.
- Ainda não estamos em processo de queda, mas apenas em desaceleração de crescimento - disse Golfarb, descartando qualquer impacto da crise política no arrefecimento do setor.
O resultado em relação ao ano passado ainda é positivo. Nos sete meses deste ano foram fabricados 1,4 milhão de veículos, 14,5% mais do que o mesmo período do ano passado. Por isso, segundo Golfarb, as estimativas para o fim do ano não serão alteradas. Para ele, a redução esperada na taxa de juros no segundo semestre será fundamental para a recuperação do setor.
A venda de carros bicombustíveis mais uma vez liderou o faturamento do setor. Em julho, 58,9% dos carros vendidos eram do tipo flex. Há um ano, eles respondiam por 24% das vendas.