Título: Relator compromete Jefferson
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 06/08/2005, País, p. A3

O relator da CPI dos Correios, Osmar Serraglio (PMDB-PR), disse ontem já estar convencido de que o deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) operava um esquema de corrupção nos Correios.

Apesar da convicção, o deputado argumentou que suas conclusões precisam da anuência dos demais integrantes da comissão parlamentar de inquérito.

- Eu até poderia dizer que tenho convicção, mas não acho adequado me manifestar num momento como este. Estamos num juízo político, mas temos de submetê-lo ao plenário - afirmou.

Jefferson, em depoimento à CPI e ao Conselho de Ética, negou que participasse do esquema e disse ter se encontrado com Mauricio Marinho apenas em duas ocasiões. O ex-chefe do Departamento de Administração e Contratação de Material da estatal foi flagrado recebendo propina e revelou que participava de um esquema de desvios de recursos capitaneado por Jefferson. A CPI foi criada justamente após este caso ter vindo à tona.

Nos depoimentos prestados, o presidente licenciado do PTB chamou Marinho de ''petequeiro'' - por ter recebido R$ 3 mil de propina - e disse que seu nome foi usado pelo ex-funcionário dos Correios para se promover.

Quinta-feira, Jefferson perdeu a compostura na CPI do Mensalão ao ser defrontado pelo senador Eduardo Suplicy (PT-SP) com uma matéria que comprovaria que, depois do escândalo, Jefferson teria se encontrado, mais uma vez, com Marinho no Mato-Grosso do Sul.

Desde que foi criada, a comissão pouco se concentrou na apuração das denúncias relativas aos Correios.

- Na verdade, desde que a CPI dos Correios começou, fomos atropelados por vários fatos e há um componente político nesse processo - declarou o presidente da comissão, senador Delcidio Amaral (PT-MS).

Diante de denúncias que surgiram, os integrantes partiram para a investigação do suposto desvio de recursos públicos no esquema que envolveria empréstimos bancários às empresas de Marcos Valério Fernandes de Souza, cujos recursos eram repassados essencialmente ao PT e seriam retribuídos com contratos de publicidade em estatais.

O presidente da CPI dos Correios disse esperar que as investigações sobre o esquema de corrupção na estatal sejam concluídas em novembro, antes das eleições de 2006.

O prazo, estabelecido no requerimento de criação da CPI das Correios, poderia ser prorrogado por mais seis meses caso deputados e senadores considerassem necessário mais tempo para as investigações.

- Nós pretendemos cumprir o prazo. O Brasil não pode viver só de CPI. O Brasil tem outras agendas - ressaltou Delcidio Amaral.

A idéia vai ao encontro da proposta aventada pelo presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), de alteração do horário de funcionamento das comissões da Casa. A idéia seria permitir a retomada das votações de projetos em plenário e não deixar o Congresso restrito às CPIs polêmicas em funcionamento - dos Correios, do Mensalão e dos Bingos. Esses projetos estão preteridos diante da avalanche de denúncias que chegam nas comissões.