Título: Prejuízo na Previ ajuda banqueiro
Autor: Hugo Marques
Fonte: Jornal do Brasil, 06/08/2005, País, p. A5

Antes mesmo de ser rejeitada na CPI dos Correios, na quinta-feira, a proposta de quebra de sigilo bancário dos fundos de pensão das estatais expôs ainda mais as disputas políticas dentro da Caixa de Previdência dos Funcionários do Banco do Brasil (Previ). Na condição de membro do conselho deliberativo da Caixa, o presidente da Associação Nacional dos Funcionários do Banco do Brasil (Anabb), Valmir Camilo, abriu fogo contra o presidente da Previ, Sérgio Rosa. Uma briga que envolve interesses do banqueiro Daniel Dantas, dono do Opportunity.

Valmir Camilo redigiu de próprio punho um ''voto'' no qual pede a destituição de Sérgio Rosa, ligado ao assessor especial da Presidência Luiz Gushiken. Valmir acusa Rosa de desrespeitar o estatuto da Previ e de tomar decisões unilaterais. Pela matemática de Camilo, o acordo da Previ com o Citigroup envolvendo problemas societários na Brasil Telecom e na Telemar teria sido fechado com um prejuízo para os fundos de pensão que investiram no negócio.

O prejuízo, na matemática de Camilo, atingiria R$ 170 milhões e estaria ligado ao câmbio retroativo do acordo, a novembro do ano passado. Outra tese de Camilo é que a Previ assumiu um prejuízo só com a função de quebrar o comando do Opportunity sobre as empresas negociadas.

O ''voto'' de Camilo foi distribuído para meia-dúzia de órgãos públicos. O ex-presidente do conselho deliberativo da Previ, Henrique Pizzolatto, também recebeu cópia do voto de Camilo. É o mesmo Pizzolatto que mandou o contínuo da Previ sacar R$ 326 mil em dinheiro na conta do mensalão. Dinheiro que a CPI desconfia ter sido repassado pelas empresas de Dantas.

Para as autoridades que investigam a corrupção em Brasília, é possível associar as denúncias contra Sérgio Rosa e os interesses de Daniel Dantas. O procurador Luiz Francisco Fernandes de Souza acha que Rosa virou o grande alvo do banqueiro depois que aplicou uma administração independente e de interesse dos fundos de pensão. O procurador avisa que não vai passar recibo de idoneidade em nome de ninguém envolvido nesta briga. Mas chama a atenção para o envolvimento de Dantas por trás de todos os episódios investigados até agora pela CPI dos Correios, seja no depoimento da secretária Fernanda Karina, nas transferências de dinheiro para a DNA Propaganda - que repassava a verba para o mensalão - ou na viagem de Valério a Portugal para negociar em nome da Telemig Celular, empresa do grupo de Dantas.

- Onde você cava, você encontra o Dantas - diz Luiz Francisco.

O procurador defende a quebra do sigilo bancário de Dantas. Luiz Francisco deseja que a CPI convoque o banqueiro para dar explicações. O procurador acha, sentado no banco da CPI, Dantas poderá trazer grandes revelações sobre o esquema descoberto pelo Congresso.

- É importante quebrar o sigilo do Dantas e chamar ele para depor. O Dantas foi o maior provedor de recursos para o Marcos Valério.

Daniel Dantas é réu em processo na Justiça Federal de São Paulo pelo envolvimento em uma organização criminosa transnacional que quebrou sigilos, fez escuta telefônica sem autorização e constrangeu desafetos. A Polícia Federal conclui que Dantas tem ''posição superior'' na estrutura da organização criminosa que envolve a Kroll Associates. Um dos espionados foi Gushiken. Apesar das conclusões da PF, até hoje os policiais não foram autorizados pela Justiça Federal a fazer perícia no disco rígido do computador do Banco Opportunity, que foi apreendido com autorização da própria Justiça Federal.

O poder de Dantas é grande no Congresso. Tem deputado do PSDB que admite ter medo de criticar Dantas. Na quinta-feira, Pompeo de Mattos (PDT-RS) conseguiu fechar acordo com a presidência da CPI para que o pedido de convocação de Dantas seja o primeiro a ser votado esta semana. Alguns parlamentares garantem que Dantas desta vez vai sentar no banco da CPI.