Título: Dólar afasta investidores de estrada no Centro-Oeste
Autor: Jeb Blount
Fonte: Jornal do Brasil, 06/08/2005, Economia & Negócios, p. A20

O dólar baixo prejudicará o objetivo do Brasil de se tornar o maior exportador mundial de soja. A desvalorização da moeda, que jogou para baixo os lucros dos produtores da oleaginosa, assustou os potenciais investidores na pavimentação da estrada que liga a área produtora ao Rio Amazonas. A licitação da obra, de 1,3 mil quilômetros de extensão, prevista para este mês, teve de ser adiada para novembro, por falta de interessados.

A construção da estrada levará pelo menos três anos após a assinatura do contrato, segundo o governador de Mato Grosso, Blairo Maggi. Os investidores matogrossenses abandonaram sua intenção de apresentar ofertas no processo de licitação após a receita dos produtores rurais ter apresentado queda devido à valorização do real. Medidas enérgicas de combate ao corte ilegal de madeira e a intensificação dos protestos por parte de grupos ambientalistas também desestimularam os investidores, disse Maggi, dono de um grupo que possui 300 mil hectares de plantações de soja, a maior área mundial cultivada com a oleaginosa.

Os agricultores do Mato Grosso mais do que duplicaram sua produção nos últimos cinco anos, transformando o Brasil no segundo maior exportador mundial de soja, atrás apenas dos Estados Unidos.

- Uma expansão maior depende da melhoria do sistema de transporte do país e da redução dos custos das remessas marítimas e das distâncias - diz Maggi.

A demanda pela soja brasileira está sendo impulsionada pela disparada das vendas à China, que utiliza a maior parte do produto importado como ração para galinhas, porcos e outros animais de criação, à medida que a crescente classe média do país vem aumentando seu consumo de carnes.

Um novo grupo de investidores de São Paulo, que inclui construtoras como a Norberto Odebrecht, a Andrade Guitierrez e a Queiroz Galvão, entre outras, está sendo formado para apresentar propostas no processo de licitação. Os vencedores terão permissão para cobrar pedágio na estrada em troca do fornecimento de manutenção, melhorias e pavimentação, além de terem de garantir que invasores de terras e madeireiras não utilizarão a rodovia para entrar ilegalmente nas regiões de floresta amazônica para pilhagem de recursos naturais.