Título: Egípcias estão longe da política
Autor: Clara Cavour
Fonte: Jornal do Brasil, 07/08/2005, Internacional, p. A12

O Egito, na rota do projeto norte-americano de construção de um Oriente Médio aliado, terá sua primeira eleição em 24 anos, e multipartidária, no dia 7 de setembro. No entanto, o pleito não contará com a participação de grande parte da população feminina do país. A razão é a falta de certidões de nascimento e documentos de identidade que as impede de possuir títulos de eleitor. Não deverá também trazer grandes transformações, já que o favorito continua sendo Hosni Mubarak, de 77 anos, com quatro mandatos de governo.

Como no Irã e no Iraque - e em boa parte do mundo árabe - as mulheres do país africano também têm seus direitos engessados pela lei islâmica sobretudo no âmbito doméstico:

- A principal fonte de problemas relacionados às condições da mulher no Egito é sua posição na família - afirma ao JB Salwa Ismail, especialista em Políticas do Oriente Médio da Universidade de Exeter, na Grã-Bretanha.

Segundo a egípcia, para conseguir divórcio, as mulheres precisam ter motivos convincentes, como a impossibilidade de ter filhos ou uma doença do marido:

- São condições muito limitadas e não abrem espaço para outras questões que podem levar a uma separação.

Uma lei aprovada recentemente permite à mulher pedir divórcio por outros motivos.

- No entanto, ela deve se comprometer a devolver todo bem material que tenha recebido do marido durante o casamento, o que pode não ser possível para as mais pobres - afirma Ismail, acrescentando que metade da população feminina no país é analfabeta.

- Em relação à defesa de direitos, as mulheres alcançaram resultados significantes, como a mudança de algumas leis. Mas ainda é preciso estender esse movimento à política - conclui Ismail. (C.C)