Título: Suplícios na Fila do INSS
Autor: Bruno Rosa
Fonte: Jornal do Brasil, 07/08/2005, Economia & Negócios, p. A18

A máquina ineficaz da Previdência, permissiva com elaborados esquemas de fraudes e sonegação, mostra a face cruel no contato com o beneficiário. No último mês, a equipe do JB acompanhou o sofrimento de brasileiros em busca de seus direitos nos postos de atendimento, cuja notória precariedade no atendimento foi acentuada pela greve iniciada em 2 de junho. Uma peregrinação que começa na fila formada de madrugada e, horas depois, se agrava com o sol forte. A comerciante Luiza Allevato, de 60 anos, saiu de casa ainda de noite na tentativa de conseguir uma senha no posto de atendimento do INSS do Méier, na Zona Norte do Rio. Moradora de Ramos, no subúrbio da Leopoldina, ela chegou ao posto às 6h30. Era a terceira da fila. O calvário de Luiza se repetia pela terceira vez. E foi em vão. Ela tenta dar entrada em sua aposentadoria há meses, mas esbarra na burocracia.

¿ A cada visita que faço, eles me pedem mais algum documento. É uma coisa absurda. Por isso, trago tudo comigo. É uma bolsa de quase seis quilos. E olha que tenho problema de coluna. Não agüento mais faltar ao trabalho para tentar resolver essa situação ¿ diz Luiza.

Como mora em Ramos, ela sempre é impedida de entrar no posto do Méier pelos funcionários, que alegam que só podem atender pessoas da região. Para evitar mais dor-de-cabeça, a comerciante procurou um advogado, que lhe informou sobre a Portaria 148 do INSS. O artigo sexto do documento diz que o beneficiário pode ser atendido em qualquer posto do país, independentemente do local onde mora.

¿ Sempre falo isso para os seguranças. Estou apenas correndo atrás dos meus direitos. Eles me olham torto até que começo a gritar. É uma vergonha.

Na última quinta-feira de julho, ela foi impedida novamente de entrar no posto. Enquanto isso, outras oito pessoas entraram na sua frente. Desesperada em perder a senha e ver sua luta ir por água abaixo mais uma vez, bloqueou a entrada, impedindo o acesso.

¿ Aqui ninguém entra se eu não for atendida. É um desrespeito com uma senhora de 60 anos. Não sou mais uma garota. Não vou perder minha senha pela terceira vez ¿ dizia aos seguranças, que acabaram cedendo devido à presença da equipe de reportagem do JB.

Drama ainda maior enfrenta Hamilton Chaves, de 53 anos, que há 16 luta semanalmente para conseguir uma pensão depois de sofrer um acidente numa empresa de metalurgia, quando ficou impedido de trabalhar.

Com a mão direita paralisada, Chaves foi obrigado a contratar um advogado para cuidar do caso.

¿ É uma situação desesperadora. Tenho que pedir ajuda da minha mãe e irmã para poder pagar os honorários do advogado. Moro em Del Castilho. Quando não tenho dinheiro, venho a pé mesmo. Quero apenas resolver meu problema. O INSS só queria me pagar R$ 60 ¿ diz Chaves, referindo-se à proposta de indenização.

Com os documentos exigidos pela Previdência em dia, ele ainda luta para tentar obter uma pensão, já que ainda tem dois filhos para sustentar.

¿ A Previdência fala que não tem dinheiro para me pagar. Mas os políticos sempre acham dinheiro para roubar dos contribuintes ¿ protesta.

Enquanto não resolve o problema, ele tenta ainda pedir aposentadoria antecipada por invalidez. Sua esperança é conversar com a assistente social.

¿ Os seguranças nem me deixaram entrar. Falaram que na filial do Méier só tem duas assistentes sociais. Uma está de férias e a outra aderiu à greve. Não sei mais o que fazer. É triste precisar dos outros ¿ desabafa Chaves, que voltou mais um vez para casa, alugada, sem uma solução para o problema.