Título: Empresas processadas evitam até mencionar as acusações
Autor: Adriana Bernardes e Rosane Garcia
Fonte: Jornal do Brasil, 07/08/2005, Brasília, p. D4
Nem todas as vítimas chegam aos Tribunais ou aceitam expor publicamente as humilhações sofridas. Preferem mudar de emprego e esquecer o passado. Da mesma forma, não parece ser fácil para o acusado de assédio moral falar sobre o assunto. O ex-patrão de José Carlos pediu que o nome dele e da empresa fossem preservados. - Eu estou sofrendo muito com isso. Sabia do crime de assédio moral, mas sempre pensei que estivesse ligado a honra de alguém ou a discriminação por racismo, religião, cor ou opção sexual. Nunca esperei que isso fosse acontecer comigo - afirma.
Ele não entra em detalhes sobre o que teria motivado o processo. Explica que na empresa sempre acontecem muitas reuniões em que os funcionários são cobrados. ''Mas que isso é normal, acontece em todo lugar''.
- O juiz entendeu que fato de a empresa fazer reuniões periódicas e seqüenciais configura em pressão psicológica. Nunca imaginei que a pressão por resultado pudesse configurar dano moral - diz.
Em alguns momentos o empresário demonstra indignação. Mas afirma que cabe a ele cumprir a determinação da justiça.
- Acho que isso pode virar uma indústria. Não posso olhar com a cara ruim para uma pessoa que ela me processa. Desse jeito, qualquer atitude mais enérgica pode ser ser configurada como assédio moral - lamenta.
Silêncio - Na 10ª região do Ministério Público do Trabalho tramitam pelo menos 8 ações sobre o mesmo tema. Consultados, representantes de alguns órgãos acusados foram rudes e não aceitaram falar sobre o assunto. Outros, se comprometeram a retornar a ligação o que não aconteceu. O presidente da Associação de Assistência aos Trabalhadores em Educação do DF (Asefe), Jorge Eduardo, mencionou que teria ouvido falar sobre a ação e consultaria o departamento jurídico para comentar o assunto. Mas não retornou as ligações.
No Cartório do 4º Ofício de Registro de Imóveis do Guará, uma mulher que se apresentou apenas como Francisca, disse em tom bastante rude que não tinha nada a falar sobre o assunto.
Já a proprietária da empresa Foot Clean, que também responde na Justiça a um processo por assédio moral, mudou de idéia à última hora depois de ser orientada pelo advogado ao não dar entrevista.